Em um comício realizado em Belo Horizonte neste sábado – sem a
presença de Dilma Rousseff -, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
ultrapassou os limites da inconsequência e comandou um show de baixarias
e ofensas desmedidas contra Aécio Neves. Foi o ponto mais baixo da
campanha até aqui. E não apenas desta campanha: desde 1989 o Brasil não
assistia a um festival de ataques como os que o PT hoje protagoniza em
uma campanha. Lula não apenas se utiliza das mesmas armas de que foi
alvo na campanha contra Collor, como vai ainda mais longe. No comício, o
ex-presidente citou o nome de Aécio muito mais que o de Dilma, que se
tornou personagem secundário dos discursos. A ordem era atacar, sem
tréguas.
Em um discurso precedido por insultos pessoais ao tucano, Lula disse
que Aécio usa violência contra as mulheres, por “experiência de vida”, e
a tática de “partir para cima agredindo”. Ao comentar a estratégia do
tucano contra Dilma Rousseff, o ex-presidente insinuou que Aécio costuma
bater em mulheres. “A tática dele é a seguinte: vou partir para a
agressão. Meu negócio com mulher é partir para cima agredindo”, afirmou
Lula. O ex-presidente também classificou Aécio de “filhinho de papai” e
“vingativo”. E o comparou a Fernando Collor. O mesmo Fernando Collor que
hoje divide palanques com Dilma, como há uma semana, em Alagoas. Lula
ainda voltou a mencionar o episódio em que o adversário deixou de soprar
o bafômetro em uma bliz no Rio de Janeiro.
O ato deste sábado deixou claro que a tática do PT na reta final da
campanha, após o revés de Dilma Rousseff no debate do SBT, na
quinta-feira, será a de expor a presidente Dilma como uma vítima das
“grosserias” de Aécio. Foi o que fez Lula neste sábado. “O comportamento
dele não é o comportamento de um candidato (…) . É o comportamento de
um filhinho de papai que sempre acha que os outros têm de fazer tudo
para ele, que olha com nariz empinado. Eu não sei se ele teria coragem
de ser tão grosseiro se o adversário dele fosse um homem”, disse o
presidente.
O ex-presidente comparou Aécio a Fernando Collor porque, segundo ele,
a eleição do ex-presidente (aliado do PT) foi fruto da pressão da mídia
e de um falso discurso do “novo”. “Em 1989, com medo de mim, com medo
do Ulysses, do Brizola, com medo do Mário Covas, muitas vezes instigado
pela imprensa, este país escolheu o Collor como presidente da República
dizendo que era o novo. E vocês sabem o que aconteceu neste país.”
Lula também disse que Aécio age como Carlos Lacerda, o estridente
líder da oposição a Getúlio Vargas, ao mencionar o “mar de lama” para
“esconder o próprio rabo”. O petista afirmou que, quando governou Minas
Gerais, o tucano perseguiu professores de forma mais intensa do que a
ditadura. “Não conheço, em nenhum momento da história, nem no regime
militar, um momento em que os professores foram tão perseguidos como
foram em Minas Gerais”, afirmou Lula. No vale-tudo, Lula tentou até
subverter o tempo: indagou o que Aécio fazia quando Dilma foi presa por
enfrentar a ditadura – ignorando que, na época, o tucano tinha apenas
dez anos de idade.
Inacreditavelmente, Lula tentou definir o adversário com uma frase
que resume de forma precisa a tática do PT: “É muito grave, porque as
pessoas se acham no direito de desrespeitar os outros com muita
facilidade e depois ir para a imprensa se passar de vítima. Não é
possível.”
Mais ataques - Mais cedo, antes de Lula entrar no
palanque, o mestre de cerimônias do comício leu uma carta de uma
psicóloga petista que atribui a Aécio a prática de espancar mulheres e
de uso de drogas, além de classificá-lo como “ser desprezível”,
“cafajeste” e “playboy mimado”. Ela afirma que o tucano tem um
“transtorno mental”.
Depois, o rapper Flávio Renegado, que discursou já na presença de
Lula, do governador eleito Fernando Pimentel e de parlamentares
petistas, disse que Aécio costumava fazer festinhas regadas a “pó
royal”, uma gíria para cocaína. Durante o discurso de Lula, grande parte
da militância presente emplacou um grito de “Aécio cheirador”, sob a
complacência de Lula – o mesmo que, minutos antes, se orgulhara de nunca
ter agido de forma desrespeitosa em nenhuma das campanhas eleitorais
das quais participou.