O reflexo da crise que atinge a indústria e o comércio também é
percebido na educação. As escolas particulares do País calculam ter
perdido 1 milhão de alunos, desde o ano passado, por conta da retração
econômica. De acordo com a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de
Ensino (Confenen), a rede privada perdeu 12% dos mais de 9 milhões de
alunos que tinha em 2014, segundo o censo escolar.
Já um levantamento da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo
apontou que, apenas no ano passado, as redes estadual e municipais
receberam 200 mil alunos que migraram das escolas particulares. Para Roberto Geraldo Dornas, presidente da Confenen, apesar de já
terem sentido os efeitos da crise no ano passado, as famílias teriam
feito outros cortes no orçamento doméstico antes de decidirem pela troca
de escola.
— A gente gastava mais de R$ 1 mil por mês de mensalidade e ainda
tinha despesa com material, uniforme, transporte e alimentação. No ano
passado fizemos de tudo para mantê-las na escola, mas não deu para
segurar. O marido conseguiu um novo emprego, mas com salário menor, por isso, voltar as meninas para rede privada ainda não é uma opção. De acordo com Dornas, no ano passado, a Confenen chegou a estimar
que a rede privada poderia perder até 20% dos alunos, mas, segundo ele,
as empresas fizeram um esforço adicional para negociar alternativas com
as famílias.
— As escolas sabiam que seria um ano difícil. A inflação está muito
alta, houve aumento de luz, água, internet e seria impossível não
repassar para as mensalidades. Mas nem sempre é assim. Desempregado desde agosto, o metalúrgico
Sidnei Aparecido da Silva, de 36 anos, tentou negociar um desconto com a
escola em que a filha de 8 anos estudava.
— Já não tinha mais onde cortar no orçamento de casa. Troquei o carro
por um mais barato, cortei passeios, não temos luxo. Sempre paguei a
mensalidade em dia, mas a escola não quis nem negociar e não tivemos
mais condições de pagar. A decoradora Ana Paula Barone, de 35 anos, também tentou desconto na
mensalidade antes de recorrer à escola pública para os filhos mais
novos, de 7 e 8 anos. Sem sucesso, eles foram estudar na escola estadual
Blanca Zwicker Simões, na zona leste. — É uma escola modelo, mas, como só vai até o 5º ano, matriculamos apenas os menores. O mais velho continua na particular.