Ao assumir o comando do País com o
afastamento de Dilma Rousseff, o ainda presidente interino Michel Temer
(PMDB) fazia questão de deixar claro aos interlocutores e à sociedade de
que precisaria adotar medidas amargas para tirar o Brasil do atoleiro
em que se encontrava depois de 13 anos de gestões petistas. Mas, ao
mesmo tempo em que desenhava um horizonte cinzento, o presidente
empunhava uma bandeira de forte apelo popular. Prometia reduzir
drasticamente o número de ministério e colocar fim à farra do
aparelhamento promovido pelo PT na máquina pública, extinguindo boa
parte dos mais de 107 mil cargos de confiança e funções gratificadas.
Depois de seis meses no comando do Palácio do Planalto, o que se
constatou, no entanto, é que o presidente ainda não cortou as benesses.
Pelo contrário, o número de cargos de
confiança teria saltado de 107.121 para 108.514. Um dado que choca com o
discurso de austeridade fiscal da equipe econômica e demonstra as
contradições do governo, que pede à população que compreenda reformas
como a do teto dos gastos públicos e assimile mudanças na Previdência,
mas demonstra letargia a cumprir o seu próprio dever de casa. Ações como
essas acabam dando discurso fácil para a oposição.
No Planalto, é unanime a avaliação de
que não houve nenhuma mudança de planos e que os cortes nos cargos
comissionados serão feitos. A explicação apresentada, incialmente, é que
num primeiro momento precisou ser levado para o governo o novo time de
Temer, antes mesmos que todos os remanescentes dos governos anteriores
fossem cortados. A previsão é que nós próximos meses a diminuição no
número de cargos de confiança já seja constatada. “Precisamos trocar o
pneu com o carro em movimento”, disse um ministro palaciano na
quarta-feira 19.