O presidenciável Jair Bolsonaro foi a estrela de um evento de elite do mercado financeiro nesta terça (6) em São Paulo, que ignorou seus principais competidores a esta altura da corrida pelo Palácio do Planalto. O deputado falou durante mais de uma hora em almoço que fechou o primeiro dia do 19º CEO Conference, encontro de banqueiros, investidores e correlatos organizado pelo banco BTG Pactual.
Sem a presença de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa, hoje inabilitado pela Lei da Ficha Limpa por ter sido condenado por corrupção em segunda instância, Bolsonaro lidera os cenários aferidos pelo Datafolha no mês passado, margeando os 20% de intenções. Nenhum dos candidatos que dividem o pelotão do segundo lugar, como Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Luciano Huck (sem partido), estava presente para falar com os cerca de 2.500 convidados do evento.
Segundo presentes no almoço, que foi fechado para a imprensa, Bolsonaro foi confrontado com perguntas sobre seu histórico intervencionista, seu desconhecimento de economia, o crescimento do patrimônio de sua família e governabilidade em caso de eleição. Saiu-se, segundo o relato, com respostas prontas. Defendeu uma pauta econômica híbrida, liberal ao pedir uma reforma da Previdência gradual e estatista ao criticar a presença da China em negócios de mineração.
Arrancou risadas ao falar sobre economia lembrando que Dilma Rousseff, a petista impedida em 2016 que presidiu sobre uma recessão, tinha formação na área. Suas respostas seguiam padrão adversativo: questionado sobre como lidar com o Congresso, perguntava se era possível continuar com o presidencialismo de coalizão em vigor no país.
Pontuou o discurso com questões sobre segurança pública e valores. Ao acabar, foi aplaudido de pé e demorou cerca de meia hora para conseguir sair do salão, parando para selfies, no hotel Hyatt. Um dos empresários presentes, crítico de Bolsonaro, disse que viu muitos “eleitores envergonhados” do deputado se manifestaram.
O evento foi aberto pelo ministro Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) e teve uma mesa à parte com outro presidenciável, o ex-banqueiro João Amoêdo (Novo). Nesta quarta, falam outros dois nomes que circulam abaixo de 3% de intenções de voto: o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A ausência mais comentada foi a de Alckmin, governador paulista que vem tendo dificuldades para unir o PSDB e outras agremiações.
Ele circula bem no empresariado, mas não é visto como um nome que agrada especialmente o mercado –uma de suas inflexões retóricas para a campanha foi a de relativizar o peso institucional do setor, ressalvando a necessidade do Estado. Nesse sentido, a presença de Bolsonaro, que historicamente abraça uma agenda fortemente estatista, chamou a atenção na plateia.
Um de seus principais articuladores, o filho e deputado federal Eduardo, estava presente e busca vender a imagem do pai como um defensor do livre mercado. Segundo a Folha apurou, o presidenciável está convencido de que precisa profissionalizar a estrutura de sua campanha para ultrapassar o que considera um teto em suas intenções de voto. Sem tempo de TV suficiente e dinheiro de fundo partidário, ele pretende investir em marketing digital e trabalhar para “polir” sua imagem.