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7 de dezembro de 2019

BNCC para professores: Competências Gerais da Educação Básica comentadas para a prática

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

É a competência da Intervenção. Todos os componentes curriculares estão envolvidos. Ex.: estimular e motivar o desejo de aprender, a curiosidade, a vontade de lidar com o conhecimento. A Metacognição: reflexão sobre “O que é que eu estou aprendendo”? Para que serve isso que estou aprendendo? Como que eu aprendo? Por que eu estou aprendendo cada uma dessas coisas? 

Aprender a buscar informação; onde buscar, como fazer a curadoria para saber se a informação é verdadeira ou não, se tem qualidade. Como eu faço perguntas? Essa competência visa à aplicação do conhecimento na vida prática (com projetos, com trabalhos de pesquisa), as habilidades que se tem que ter para a aplicação do conhecimento. Desenvolver a noção de contextualização de conhecimento; como esses conhecimentos desses diversos assuntos dialogam com minha realidade? Com a comunidade onde vivo? Como essas coisas estão ligadas?

2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.

Essa competência envolve todos os componentes curriculares. HABILIDADE DE FAZER PERGUNTAS. O que realmente eu quero saber sobre esse assunto? 

Interpretar dados e informações coletadas depois das perguntas feitas. Usar a lógica, a intuição, a dedução, para fazer investigações sobre a realidade. Realizar pesquisas de campo, estudos, experiências em laboratórios, formular hipóteses, testar hipóteses, chegar a conclusões a partir de evidências, fazer síntese das conclusões a partir de experimentos. Explorar ideias, ter novas ideias, criar soluções para problemas e executar, colocar essas ideias em prática. 

3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.

Expansão do repertório cultural. Produzir arte e cultura. Envolve Áreas de Linguagens e Ciências Humanas, principalmente. Apreciar e desenvolver a sensibilidade artística e cultural. Se expressar através de arte e cultura. Construir sua identidade, onde esse aluno vive, comparando e respeitando, sem critérios valorativos. Desenvolvendo o senso de pertencimento. Principalmente na área de ciências humanas, deve-se abordar e incorporar discussões sobre a multiculturalidade: como surgem os conflitos, por que precisamos respeitar, e, mais do que isso, valorizar as diferenças; como é difícil viver em sociedades diversas, mas também quais os benefícios e as riquezas da convivência com tantas pessoas diferentes.

4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimento das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.

Está presente principalmente na área de linguagens, mas pedagogicamente deve dialogar com todos os outros componentes. Envolve habilidade de escutar e entender o que os outros dizem, com respeito, com abertura e com curiosidade. Habilidades que levem o aluno a ter a capacidade de se expressar, de utilizar a linguagem verbal com precisão, com clareza, assim como na escrita, de interagir com diferentes interlocutores, garantindo que aquilo que está dizendo, está sendo compreendido por seu receptor. Habilidades que levem os estudantes a debaterem ideias, com respeito, promovendo entendimento entre as partes. Promover uma estrita ligação em uma interface com a competência 5 (cultura digital) para que o aluno crie, se apodere de habilidades de se comunicar em várias linguagens, utilizando todo o tipo de mídia para se apropriar das novas tecnologias como forma de fazer suas ideias se espalharem pelo mundo.

5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

Pode estar presente e dialogando com os currículos de todas as disciplinas. Ex.: explorar ferramentas digitais, máquinas e tecnologias. Fazer os alunos entenderem a lógica de programação, o pensamento computacional, o universo dos algoritmos, regras, fluxos de funcionamento de programas, aplicativos, etc. Incluir habilidades que levam estudantes a compreenderem os impactos da tecnologia no mundo, dos comportamentos, a utilização com ética e de forma adequada. 

6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

A escola pode criar e construir atividades especiais para trabalhar, ou em estudo dirigido ou em projeto de vida, unindo todos os componentes curriculares. Ela pode ser iniciada, principalmente com as áreas de ciências humanas e de linguagens. O currículo deve prever habilidades que levem estudantes a se organizarem, organizarem seus estudos, pensarem em seus sonhos, em suas aspirações, poderem planejar como alcançar aquilo a que se propõem. Perseverança, manutenção de foco, persistência. Habilidades relacionadas à capacidade dos alunos de avaliarem suas metas, seus sonhos, porque elas podem mudar, porque elas podem exigir outras estratégias para serem alcançadas. São habilidades que devem, a partir de agora serem trabalhadas cotidianamente nas escolas. Incluir com carinho no currículo para que, ao se discutir sobre identidade, ou o mundo do trabalho, não como profissionalização, possamos refletir: “Quais são meus sonhos? O que me interessa? Que profissão eu penso em ter em minha vida adulta?”.

A escola deve criar momentos intencionais para os estudantes pensarem e dialogarem sobre suas potências, sobre seus desejos, e como vão realizar tudo isso em nível pessoal e profissional, dentro da cidadania e de sua atuação social.

7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

Construção de acordos coletivos. Envolvendo as ciências humanas, ciências da natureza e linguagem. Incluir nos currículos habilidades relacionadas à capacidade de os alunos construírem argumentações claras, fortes, recheadas de informações que vão se juntando ao próprio lidar com o conhecimento. As práticas pedagógicas precisam criar oportunidades para que eles confrontem suas ideias, em debates respeitosos, dialogados, de maneira harmônica, em que o confronto seja de ideias e não de pessoas. Incluir nos currículos habilidades relacionadas à capacidade de compreender o mundo e os temas contemporâneos para que as opiniões defendidas possam estar balizadas por temas como direitos humanos, questões ambientais, sociais, de diversidade. Incluir nos currículos de ciências humanas e ciências da natureza conhecimentos o suficiente, bases suficientes, para os alunos comporem sua visão de mundo, bem como suas opiniões com base em evidencias e em consciência socioambiental. 

8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

Já é trabalhada nas escolas, mas não de maneira intencional. Nas ciências da natureza e Educação Física é necessário incluir nos currículos habilidades relacionadas à capacidade de alunos conhecerem o seu corpo, de se cuidarem, de se afastarem de situações de risco, desenvolverem seu bem estar e qualidade de vida, lidarem com suas próprias mudanças. Arte e Ciências Humanas devem lidar com o autoconhecimento, a construção de valores, de identidade, “quem sou eu, por que eu sou desse jeito, quais as influências da cultura, da minha família, do mundo em que eu vivo na construção de minha identidade”. Quais são minhas fragilidades? 

Desenvolver cada vez mais o pensamento de autoestima, de apreciação por si. Incluir nos currículos de Matemática habilidades relacionadas à capacidade de elevação da autoestima. Quanto mais perceberem que são capazes de resolver problemas, mais preparados estarão para problemas futuros maiores. Vale incluir o pensamento de que a autoestima acontece muito nas relações uns com os outros, em casa, no ambiente escolar professor/aluno e aluno/aluno (são essenciais para aprendizagem, desenvolvimento e exercício dessas capacidades), e na sociedade. 

9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

Dialoga muito com as áreas de Ciências humanas e de Linguagens, porém está em toda a prática pedagógica da escola. Incluir nos currículos habilidades relacionadas à valorização da diversidade, da discussão dos grandes conflitos, das desigualdades, das injustiças, para que alunos possam adquirir capacidades de mediarem conflitos, de lidarem com a violência, de construírem uma cultura de paz. Incluir, nos currículos de linguagens, habilidades relacionadas à capacidade de compreender a opinião, o sentimento do outro, de leva-los em consideração, de diálogo, de colaboração, de convivência. Construir regras de convivência na própria escola, com habilidades de discussão sobre como está a convivência em nossa escola, em nossa comunidade, na nossa cidade, no Brasil, no mundo. Que conflitos são esses? E como podemos ser agentes de colaboração, agentes corresponsáveis, e mediação para resolução dessas crises de relacionamento pelas quais a gente passa.

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Responsabilidade e cidadania. Envolve todas as áreas do conhecimento por meio da associação dos conhecimentos adquiridos nos diversos componentes curriculares frente aos problemas enfrentados em nossa comunidade e/ou no mundo. Incluir nos currículos habilidades relacionadas ao estímulo do protagonismo do aluno: no seu grupo de amigos, na escola, na comunidade. Guiando-o a refletir sobre soluções para grandes problemas. Na área de Ciências Humanas os alunos devem conhecer sobre seus direitos, sobre seus deveres, suas responsabilidades enquanto cidadãos. Que nos Currículos de Arte, de Educação Física, de Ciências da Natureza, eles possam falar sobre a tomada de decisões e como essas impactam em sua vida pessoal e nas questões socioambientais do mundo. 

Que a ética seja um tema que, além de motivo de discussão no currículo, seja também das práticas pedagógicas e das atividades que acontecem na escola, para que todas as questões antiéticas ou de ética duvidosa possam ser discutidas. 

Por fim, é fundamental que os currículos prevejam atividades que os alunos vão, sim, exercer sua cidadania na prática, sendo agentes de transformação de suas vidas e do mundo.

Texto para uso didático, elaborado e reproduzido a partir do texto oficial da Base Nacional Comum Curricular e dos comentários de Anna Penido do “Instituto Inspirare”, dedicado, carinhosa e respeitosamente, a Branquinha, diretora do Centro Integrado de Aprendizagem de Tenente Laurentino Cruz/RN. 

Erivan Alonço da Costa, 27/10/2019