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13 de janeiro de 2020

Caixa quer reduzir juro do cheque especial para 2% ao mês

O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, quer reduzir a taxa do cheque especial para o patamar de 2% ao mês. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, ele disse que o banco aposta na redução da inadimplência e na ampliação da base de clientes para viabilizar esse movimento e já determinou à sua equipe que se debruce sobre o tema.

Ele reforçou ainda a determinação de fazer uma “revolução” no financiamento habitacional no Brasil, com a nova linha de financiamento com juros fixos, sem correção, a ser anunciada em meados de março.

Em dezembro, a Caixa já havia reduzido a taxa do cheque especial de 4,99% ao mês para 4,95% para clientes que recebem seus salários na instituição. O Banco Central determinou que os bancos devem restringir o juro a 8% ao mês a partir de janeiro. Antes, a média era de 12% mensais.

– A gente passou o cheque especial de 14% para 4%, e o meu objetivo é ir para 2%, 2,9% ao mês. Nós tínhamos uma inadimplência ‘X’ quando cobrávamos 14%, temos uma inadimplência muito menor quando cobramos 4,9%. Se a gente conseguir reduzir a inadimplência e aumentar a carteira, podemos continuar diminuindo o cheque especial porque o que interessa para a gente é a rentabilidade — disse Guimarães, que admite que a decisão está relacionada ao perfil social da instituição:

– Existem segmentos que têm uma margem maior, e claramente a maior é do cheque especial. Vamos ter um resultado recorde de lucro de 2019. Isso é uma demonstração de que a gente consegue reduzir juros e ter lucro. A gente busca lucro equilibrado, retorno para a sociedade e os clientes de forma equilibrada.

Essa ação agressiva de Guimarães conta com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, que vê na ação do banco estatal uma forma de forçar a redução dos juros das demais instituições financeiras. No sábado passado, em uma transmissão ao vivo nas redes sociais, o presidente ressaltou que a Caixa vem puxando a queda na taxa de juros e que os concorrentes devem correr atrás para “não perder clientes”.

Ele também avaliou que, caso a instituição fosse privada, não teria se comportado do mesmo modo. Na quinta-feira, em transmissão nas redes sociais, Bolsonaro voltou a elogiar a Caixa:

– Vale abrir conta lá, pois ela está na frente dos outros bancos. A não ser que os bancos sigam o exemplo da Caixa. Caso contrário, o Pedro vai matar os outros bancos, o Pedro vai ser o exterminador de bancos, com esses números que está apresentando para o cheque especial e outros itens, como crédito imobiliário.

O novo modelo terá prazo de financiamento de 30 anos e a taxa de juros será no mínimo de 6,5% ao ano — a mais baixa da instituição. Guimarães não revela quais serão as taxas a serem cobradas, mas adianta que serão competitivas e não só para a classe média.

Para se precaver contra eventuais prejuízos, caso os indicadores da economia piorem, como aumento da inflação, o banco vai embutir na tarifa o custo de hedge (proteção) — que será feito via compra de títulos públicos atrelados à inflação. Para assegurar que o cliente não tenha perdas ao assumir um contrato habitacional de longo prazo com juros pré-fixados, a Caixa assumirá os riscos.

– Hoje, o cliente tem o risco da TR (Taxa Referencial), que pode subir em caso de alta da Selic, e da inflação, com o IPCA. Ele terá uma taxa fixa e não terá que se preocupar com inflação. No caso da Caixa, como a gente se defende? Comprando títulos que tenham correlação com a inflação. Vou fazer um financiamento (com a compra dos títulos públicos) e vou pagar nos próximos 30 anos. Isso nunca aconteceu. Essa modalidade será uma revolução — destacou Guimarães, que convidou para o lançamento da linha o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Segundo ele, cabe à Caixa se antecipar a esse movimento, já consolidado em países como EUA e Europa. Guimarães ressaltou que a instituição é “sinônimo” de crédito imobiliário no Brasil. Ela detém fatia de cerca de 70%.

Os demais bancos devem seguir o mesmo caminho, como foi com o financiamento habitacional tendo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) como indexador. A modalidade foi lançada em agosto de 2019 e já atraiu outros 16 bancos, segundos dados do BC.

— Fizemos com o IPCA, e isso foi importante porque gerou discussão no mercado entre prós e contras, gerou amadurecimento. Depois reduzimos os juros dos financiamento com TR de 9% para 6,5% ao ano, e agora vamos a uma terceira discussão, que é o prefixado — disse Guimarães.

O Globo