Há um mês o Rio Grande do Norte registrava o primeiro óbito causado pelo novo coronavírus (Covid-19). Desde 28 de março, quando a morte do professor universitário Luiz di Souza foi confirmada em Mossoró, a doença interrompeu as histórias de mais 44 pessoas no estado, até a manhã desta terça-feira (28).
Em um mês, o novo coronavírus fez mais vítimas que a dengue e a chikungunya juntas somando os anos de 2018 e 2019: foram 45 mortes por Covid-19 contra 43 causadas pelas duas arboviroses no Rio Grande do Norte. No intervalo de 31 dias, o novo vírus também matou mais que a dengue em três anos. Os dados são da Subcoordenadoria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Suvige/Sesap).
“Um fato que ficou muito claro nessa pandemia foi exatamente esse surto de mortes porque temos também uma epidemia de mortes. A mortalidade é absurda. Ter no RN mais mortes por coronavírus em um mês, do que nós tivemos em dois anos juntando as arboviroses – que das doenças infecciosas são as mais agressivas aqui no nosso meio – só mostra para nós que precisamos nos preocupar”, comentou a infectologista Marise Freitas.
No RN, a taxa de letalidade calculada pelo Ministério da Saúde para a dengue é de 0,02%, com base nos sete óbitos registrados entre os 32.004 casos prováveis da doença ao longo de todo o ano de 2019. Utilizando o mesmo recorte para a chikungunya, a taxa de letalidade é um pouco maior: 0,08%. Já a Covid-19 tem uma taxa de mortalidade 270 vezes maior do que a da dengue no ano passado (5,41%): foram 45 mortes entre as 832 confirmações do vírus.
“A gente vê doenças diferentes e com letalidades diferentes e com isso nós podemos ter uma ideia da gravidade que é essa Covid-19. Esse registro de que há mais mortes por coronavírus em um mês do que a dengue em três anos é preocupante e ajuda a entender a gravidade do problema, sobretudo porque estamos no começo da curva”, destacou o médico epidemiologista Ion Andrade.
A infectologista e professora do Departamento de Infectologia da UFRN, Marise Costa, alerta para a agressividade do novo coronavírus, que causa danos em todo o organismo. “Diferentemente de outros vírus respiratórios, a Covid-19 não causa danos só nas vias aéreas, mas também no sistema vascular, no sistema imunológico e também provoca alteração intestinal, ou seja, o vírus parece ser mais invasivo, mais agressivo do ponto de vista de adoecimento e portanto com um risco de morte maior”, complementa.
Ao todo são 62 mortes causadas pelas arboviroses – doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti – em três anos RN. Outros 17 óbitos estão sob investigação. Como comparativo, até esta terça (28), o Rio Grande do Norte tem 832 casos confirmados do novo coronavírus, 4.122 suspeitas, 73 pacientes internados com a doença e 45 mortes confirmadas, além de outras sete em apuração.