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10 de agosto de 2021

Jumento pode desaparecer até meados de 2022


Os jumentos estão entrando em extinção. O maior símbolo animal do nordeste brasileiro corre risco de não existir mais se nada for feito por parte das autoridades. O alerta foi feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) e também pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia. Eles prevêem que os animais possam desaparecer já em 2022.

De acordo com um levantamento do Ministério da Agricultura, quase 5,4 mil jumentos foram abatidos apenas no estado baiano no mês de abril deste ano. Dados do governo mostram que de 1995 a 2017, o número de jumentos no estado da Bahia — que sozinho reúne 90% da população do animal — caiu de 300 mil para 93 mil, uma redução de quase 70%.

A explicação está no abate para a venda da pele do animal, que tem em países como Portugal, Espanha, China e Itália seus principais destinos. Ela é um dos compostos principais na produção do ejiao, uma gelatina da medicina tradicional chinesa usada para tratar problemas de saúde como insônia, tosse seca e problemas de coagulação sanguínea.

“O jumento está no Brasil desde o tempo do descobrimento e foi se reproduzindo, desenvolvendo espécies que só existem aqui e que vão acabar. Pelos números apresentados nos levantamentos do próprio Ministério da Agricultura, a partir do ano que vem, não teremos mais jumentos na Bahia e nem no Nordeste inteiro”, alerta a médica veterinária e diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Vânia Nunes, em entrevista ao “Correio 24h”.

Um dos motivos pelos quais o jumento é muito procurado está no baixo preço cobrado pela venda. A questão é que não há uma taxa de reprodução alta desses animais, o que impede que haja um equilíbrio entre os abates e nascimentos.

O abate de jumentos havia sido proibido em 2018 após uma movimentação de organizações de proteção aos animais. No entanto, em 2019, a prática voltou a ser legalizada, com uma regulamentação que, apesar de bem intencionada, não é fiscalizada de forma eficaz.

“Sabemos que existem interesses econômicos que beneficiam alguns segmentos e fazem essa prática continuar permitida, apesar dos alertas que já foram feitos. Essa prática está acabando com os jumentos. A gente não pode admitir uma situação como essa. Estamos vendo uma verdadeira chacina de uma espécie fundamental”, completa Vânia.