— Os dois estavam casados?
“Nao, não, eu era livre, solteira e desimpedida. Ele tinha esse
casamento. E ele dizia isso para mim, tenho cartas dele dizendo isso,
que era um casamento de conveniência. A Ruth [Cardoso] era irmã dele,
eles tinham uma relação fraternal. A gente escuta um monte de histórias.
E cai.”
— A rotina: “Ele vivia realmente comigo, a gente era
vizinho, então ele dormia na minha casa, a gente tinha um
relacionamento bom. A única coisa chata era o Natal, o Ano Novo, essas
coisas todas, isso foi me incomodando. Quando ele viu que estava me
incomodando começou a passar o aniversário. Ele jamais deixava de passar
o aniversário comigo, o dele e o meu. Então, eu fico pensando: para ele
era a coisa mais fácil do mundo. Ele tinha uma garota 30 anos mais
jovem, discretíssima, era jornalista. Eu perguntava para ele: o que você
viu em mim? Ele dizia: ‘você é o pé na minha realidade’.”
— Dona Ruth Cardoso: “Ela nunca entrou em contato,
ela também deve ter sofrido. Fernando Herique era um total ausente da
vida da família, ele vivia viajando. Basta pegar o currículo dele para
ver isso. Agora, ele casou de novo, com a secretária. Acho que está há
muito tempo com essa mulher, eu percebi desde que eu estava em Londres,
ele estava casado com a Ruth ainda.”
— A ameaça de voltar em 1996: “…Aí eu falei [para a
Globo]: estou me demitindo, do mesmo jeito que eu me demiti quando saí
de Brasília. Eu vou voltar para o Brasil. Isso foi em 96. Foi nesse
momento que eu me exilei, quando eu aceitei e depois fui [de Portugal]
para Barcelona. Nesse momento eu sabia que tinham acabado minhas
possibilidades de voltar ao Brasil. Eu vivi 13 anos em Barcelona, criei
meus dois filhos lá. Foi pesadíssimo, condições econômicas ruins. Eu só
fiz uma coisa boa lá: ao invés de pagar aluguel, comprei um apartamento,
estava na época ainda de financiarem 100%. É a única coisa que eu
tenho. Agora eu tenho uma vida completamente sozinha…”
— A reeleição de FHC: “Na verdade ele queria a
reeleição. Naquele momento, se eu fosse para o Brasil, iria complicar
muito a coisa. A minha história é a seguinte: eu não tinha nenhum
contato mais com ele, mas queria me proteger e proteger os meus filhos.
Como jornalista, morando em Brasília, eu sabia que, no momento em que eu
colocasse os meus filhos na escola, iria ser uma perseguição. E não era
justo. Não era justo para eles nem para mim viver aquilo.”
— A amargura: “Ele faz parte da minha história, mas
tem algumas pessoas que fazem parte da tua vida e te fazem muito mal,
fazem um estrago tão grande… Eu cheguei na situação que estou hoje, de
ser uma pessoa jovem, mas velha por dentro. Cansada, muito cansada. Esse
exílio foi muito pesado. E todo mundo pensando que era um exílio
dourado, que eu estava super bem. Eu passei por muita dificuldade, muita
solidão, focada nos meus filhos e tentando muito, sempre, trabalhar. E
pedindo para a Globo, pelo amor de Deus, para sempre fazer alguma coisa.
E eu sempre era cortada, sempre cortada, sempre cortada. Até o dia em
que você cansa disso, sabe? Você se sente tao humilhada, você cansa.”
— A TV Globo: “…Eu sou a última exilada,
literalmente. Trinta e cinco anos no mesmo lugar, em um emprego só, é
muito difícil. Eu tinha um contrato, não podia fazer nada, eu era
proibida de usar a minha imagem, minha voz em qualquer outro lugar. Eles
me colocaram abaixo de qualquer coisa… Em Portugal, eu fiz muita
matéria, trabalhei bastante os três primeiros anos. Depois eles me
congelaram e, mesmo em Londres, eu não tive acesso a essas matérias. Eu
não podia vê-las, eu tinha a maior curiosidade e não podia. Estou
falando de 92, 93, 94. Em Portugual eu fiquei cinco anos. Três anos eu
trabalhei muito, fiz Globo Repórter, cobri a morte do Ayrton Senna. Tudo
isso eu não consigo ver…”
— Autoexílio: “Sinceramente, eu acho que eu permiti
isso. O que todo mundo faz? Escreve um livro, faz um escândalo, não sei
das quantas. Não é assim que todo mundo funciona no Brasil, no
improviso? Vai lá, invade, ganha uma grana e tal… Eu calei a minha boca.
Eu fiz o que a minha ética e consciência mandavam.”
— FHC e o reconhecimento da paternidade: “O Tomás
nunca teve pai. O Tomás nunca foi reconhecido. O nome dele é Tomás Dutra
Schimidt, é o meu nome. A certidão de nascimento do Tomás está lá, pai
‘em branco’. E nunca isso mudou! Se falarem… provem. Porque eu nunca vi
nenhum documento. Essa história de que veio aqui em Madri [em 2009] é
tudo mentira!”
— O resultado negativo do teste de DNA: “Eu acho que
é mentira, porque eu só vi um documento, mas todo mundo pode enganar
com um DNA. Ninguém questionou. Meu filho fez um exame, ele estava num
alojamento nos Estados Unidos —‘você não pode contar pra sua mãe.’
Fizeram escondido de mim, eu nunca proibi que fizessem DNA, nunca proibi
absolutamente nada. Ao contrário, eu sempre incentivei que fizesse, que
tivesse contato, essa coisa toda.”
— Estranhou o teste tardio de DNA, após 18 anos?
Exatemente! E lá nos Estados Unidos, o Tomás estava sozinho. Ele não
tinha a mãe em cima dele. […] Teve a oportunidade de fazer em Barcelona,
em Londres, milhões de lugares. Ele nunca quis fazer. Por que lá? Foi
estranho, não é? E depois eu falei assim: ‘vamos fazer os três juntos’. [em verdade, foram realizados dois testes de DNA, um em São Paulo e outro nos Estados Unidos].”
— A divulgaçãoo do resultado dos testes de DNA: “Ele
[FHC] divulgou. Ele fez questão de divulgar um assunto que nunca foi
público. Então, resultado: isso só me prejudicou, prejudicou
profundamenbte o Tomás, que, para um menino de 20 anos, fazer uma coisa
dessas foi muito feio, o traumatizou sorrateiramente. É o estilo dele,
fazer tudo sorrateiramente e posar de bom moço. Eu não esperava, na
verdade, quando eu gostei, quando eu o conheci, eu vi o homem e não o
político. Eu acho que essa pessoa mudou muito depois que foi para o
poder…”
— FHC mantém relação com Tomás? “Agora tem! Agora tem… Para entender essa história toda é muito complicado. É um novelão mexicano.”
— Ajuda financeira: “Eu aceitei que ele pagasse o
colégio e a universidade de Tomás. Por isso ele se deu à tranquilidade
de ir lá [nos Estados Unidos] pegar o Tomás para fazer o tal de DNA. Na
verdade, eu acho que é uma questão de herança.”
— E quando FHC morrer? “Ele já provou para a sociedade que não é dele. […] Eu não vou remover sepulturas para tentar rever isso.”
— Por que decidiu falar agora? “Porque eu acho que
está na hora de as pessoas começarem a saber a verdade. E agora eu
também preciso arrumar um trabalho, eu não quero mais nenhum contrato,
eu quero colaborar…”