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21 de outubro de 2019

Potiguares buscam ensino superior depois dos 50 anos

“Sempre fui apaixonada pelo Direito, fascinada pela advocacia. Agora que meus filhos estão grandes e criados, enfim, vou realizar meu sonho”, relata Maria Heleneide Moraes, que está finalizando o curso de Direito. Aos 60 anos de idade, ela vai poder exercer a profissão com que sempre sonhou, inspirada na convivência com os colegas de trabalho. Ela é funcionária pública aposentada do Departamento de Estradas e Rodagem (DER) no Rio Grande do Norte e sempre trabalhou no setor jurídico, ao lado de advogados.

Atualmente, Heleneide está no 10º período da graduação na faculdade Estácio de Natal, faltando apenas a produção e apresentação do Trabalho de Conclusão do Curso, que demandará mais um período. “Agora, que estou no final, estou indo com calma. Já demorei tanto para chegar até aqui, que quero concluir com tranquilidade”, conta.

Em busca do seu sonho também está Stela dos Santos, 54. Em vez de fazer planos para a aposentadoria, ela tem novas perspectivas para a vida. Diferente de Heleneide, que está na reta final, Stela dá ainda os primeiros passos da graduação em Psicologia. “Eu já possuía o curso de Pedagogia, mas não trabalhei na área para me dedicar à família. Agora estou com novos planos e perspectivas e acredito que a Psicologia vai me auxiliar nisso”, compartilha a estudante que almeja se profissionalizar para trabalhar, voluntariamente, com crianças carentes.

Heleneide e Stela são retratos de milhares de brasileiros que não tiveram a oportunidade de fazer o curso superior que almejavam, ou mantiveram guardados seus sonhos profissionais e, agora, aproveitam para estudar.

Atualmente no Brasil há 18,9 mil universitários com idades entre 60 e 64 anos. Na faixa etária acima dos 65, o número é de 7,8 mil pessoas. Os dados incluem instituições públicas e privadas. As informações constam no Censo de Educação Superior de 2017, levantamento mais recente. Os números não especificam, no entanto, a quantidade de idosos que estão fazendo curso superior pela primeira vez.

No Brasil, o número de idosos cresce em proporções impressionantes e, dessa população, quase metade é constituída por indivíduos com escolaridade igual ou superior ao Ensino Fundamental. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000 a população idosa com mais de 60 anos era de 14,5 milhões de pessoas, um aumento de 35,5% ante os 10,7 milhões em 1991. Hoje, este número ultrapassa os 29 milhões e a expectativa é que, até 2060, este número suba para 73 milhões com 60 anos ou mais, o que representa um aumento de 160%.

Acompanhamento pedagógico
Segundo a pedagoga Bruna Braga, tantos os estudantes que estão na chamada Terceira Idade, quanto os que estão há muito tempo sem a prática do estudo regular, têm alguns diferenciais dos alunos ‘mais jovens’. Primeiramente, os mais maduros são mais interessados e engajados em sala de aula, pois valorizam o momento que têm para se dedicar aos estudos, o que muitas vezes é a realização de um sonho.

No entanto, avalia Bruna Braga, alguns possuem uma dificuldade de adaptação ao ritmo de estudo do ensino superior. “Muitos ainda estão habituados à dinâmica antiga de educação que dispensava a reflexão crítica e focava somente nas respostas prontas”, avalia.

Integrante do Núcleo de Apoio Psicopedagógico (NAP) da Estácio de Natal, Bruna explica que quando estes casos são identificados, o NAP inicia um acompanhamento individual e personalizado com o aluno. “Sentamos juntos para avaliar e encontrar uma forma de adaptá-lo. Vai depender de cada perfil”, explica.

A pedagoga acrescenta que uma das metodologias adotadas pelo NAP é a elaboração de um plano de estudo baseado nas dificuldades apresentadas pelo estudante e na rotina dele. Também são oferecidas atividades que estimulem a leitura e escrita argumentativa. “Pela nossa experiência, as dificuldades são mais no início mesmo. Após o acompanhamento e orientações, eles conseguem se desenvolver muito bem em sala”, pontua.