Um novo estudo publicado nesta sexta-feira (12) na Science Advances mostra que o risco de falta de
água no mundo é maior do que se imaginava. Segundo o estudo, conduzido
por pesquisadores holandeses, pelo menos dois terços da população
mundial vive em áreas que sofrem com forte escassez de água algum
período do ano.
Calcular a
escassez de água no mundo não é a novidade do estudo. O próprio Fórum
Econômico Mundial faz esse tipo de avaliação. A novidade é que pela
primeira vez esse cálculo foi feito por mês, analisando as mudanças
sazonais, em vez de uma estimativa anual. Assim, uma região que passava
alguns meses sem água, por exemplo, não entrava nas estimativas
anteriores.
O resultado é
que, segundo os pesquisadores, 4 bilhões de pessoas passam pelo menos
um mês ao ano em situação de alta escassez de água - a maior parte em
áreas da Índia e China.
1 mês ao ano: 4 bilhões
4 meses ao ano: 2,9 bilhões
6 meses ano ano: 1,9 bilhão
Ano todo: 500 milhões
4 meses ao ano: 2,9 bilhões
6 meses ano ano: 1,9 bilhão
Ano todo: 500 milhões
O mapa abaixo
mostra a falta de água por mês no mundo. Quanto mais forte o tom de
vermelho, mais meses determinada região enfrenta alta escassez de água. É
interessante notar que as áreas em verde, que não passam nenhum mês em
situação de escassez, coincidem com as grandes florestas do mundo, como a floresta amazônica, a África central, a Indonésia, o norte da Europa e Rússia.
O estudo
considera dois fatores como os principais causadores da escassez de
água: alta densidade populacional e a presença muito forte da
agricultura de irrigação. É isso que explica a escassez na Índia e na
China, por exemplo. A explicação é interessante porque vai além de
considerar apenas questões de clima ou meteorologia. Nesse sentido, o
trabalho dos pesquisadores holandeses dialoga com um comentário publicado na revista Nature, semana passada, por um grupo de 13 pesquisadores que estudam seca.
Nesse
comentário, os cientistas dizem que é hora de parar de considerar a seca
como um desastre meramente natural e passar a tratá-las como um
fenômeno provocado por humanos. "Secas severas em ambientes dominados
por humanos, como as vivenciadas nos últimos anos na Califórnia, Brasil,
China, Espanha e Austrália não podem ser vistas puramente como
desastres naturais. Mudanças antropogênicas na superfície terrestre
alteram processos hidrológicos e afetam o desenvolvimento da seca",
dizem. Segundo eles, parar de considerar a seca como um "problema de São
Pedro" é a forma mais efetiva de enfrentar o problema, especialmente
agora em que o planeta está entrando numa época dominada pelo homem, o antropoceno.