O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF),
autorizou nesta quinta-feira a continuidade das investigações abertas
para apurar o possível envolvimento do presidente do PSDB, senador Aécio
Neves (MG), em um esquema de corrupção na hidrelétrica de Furnas. O
despacho atende a um pedido do procurador-geral da República Rodrigo
Janot e garante a coleta de provas contra o congressista, oitiva de
testemunhas e o depoimento dele em até 90 dias.
Em meados de maio, Mendes havia determinado a remessa das suspeitas
contra Aécio à procuradoria-geral da República para que o Ministério
Público avaliasse a necessidade de dar seguimento às investigações
contra o parlamentar. Na época, o ministro considerou que o tucano
apresentou esclarecimentos ao tribunal e sustentou que as novas provas
usadas pelo procurador-geral Rodrigo Janot para pedir a abertura de
inquérito, à exceção dos depoimentos do senador cassado Delcídio do
Amaral em delação premiada, seriam, na verdade, elementos já utilizados
também para pedir o arquivamento de outras investigações contra ele.
Em seu acordo de delação premiada, o ex-líder do governo Delcídio do Amaral apontou Aécio como destinatário de propina em um esquema de corrupção na hidrelétrica de Furnas. Delcídio não citou valores que teriam sido repassados ao senador tucano, mas disse que o então diretor de Engenharia de Furnas Dimas Toledo, que ocupava o cargo apoiado pelo PP e por Aécio, tinha um "vínculo muito forte" com o senador do PSDB.
Às autoridades responsáveis pela Operação Lava Jato, Delcídio revelou
que "Dimas operacionalizava pagamentos e um dos beneficiários dos
valores ilícitos sem dúvida foi Aécio Neves, assim como também o PP,
através de José Janene". "O próprio PT recebeu valores, mas não sabe ao
certo quem os recebia e de que forma", disse o delator. Em uma viagem em
maio de 2005, o senador cassado relatou que o então presidente Lula
quis saber quem era Toledo e então disse: "Eu assumi e o Janene veio
pedir pelo Dimas. Depois veio o Aécio e pediu por ele. Agora o PT, que
era contra, está a favor". Na sequência, Lula concluiu: "Pelo jeito ele
está roubando muito". José Dirceu teria sido o petista a interceder pela
permanência de Toledo. Além de Janene e Aécio, Eduardo Cunha é incluído
por Delcídio entre os políticos que tinham ascendência sobre a estatal.
A decisão de Gilmar Mendes de devolver inicialmente o caso ao
Ministério Público provocou críticas de Janot, mas o magistrado negou
interferência no caso. "As diligências deferidas não se destinavam à
colheita de provas urgentes. Pelo contrário. Os fatos investigados
teriam ocorrido há mais de dez anos. Neste inquérito, o Ministério
Público se animou a perseguir diligências que já eram previsíveis por
ocasião da investigação arquivada - como a inquirição de Dimas Fabiano
Toledo, pela Polícia Federal", disse o ministro.
Em nota, Aécio Neves disse que "ninguém gosta de ser injustamente
acusado, como é o caso, mas eu tenho serenidade para compreender que
esse é o papel do Ministério Público, investigar as citações e acusações
que ali chegam, e o da Justiça, de dar prosseguimento a essas
investigações". "Tenho a absoluta convicção de que, ao final, ficará
provado mais uma vez a minha inocência, como já aconteceu no passado, o
que levou, inclusive, ao arquivamento dessas mesmas acusações. Eu estou
convencido, de que depois de tudo isso, não apenas desse caso em
especial, mas do que vem acontecendo com o Brasil, nós teremos um país
diferente, onde os culpados sejam punidos e punidos exemplarmente, e
aqueles que são inocentes terão a sua inocência reconhecida, para que
possam continuar o seu trabalho em favor do Brasil", disse.