O Vaticano vai canonizar no domingo (4) a beata madre Teresa de
Calcutá, depois de ter reconhecido, após vários anos de investigação, a
´cura extraordinária´, em 2008, de um engenheiro brasileiro com
múltiplos tumores no cérebro. As cerimônias de canonização, decretada pelo papa Francisco a 15 de
março, vão decorrer na praça de São Pedro, a partir das 10:30 (5:30 em
Brasília), um dia antes do 19.º aniversário da morte de Teresa de
Calcutá, fundadora da Ordem das Missionárias da Caridade.
A aprovação pelo Papa do segundo milagre encerrou o processo que
levou à beatificação em 19 de outubro de 2003, durante o pontificado de
João Paulo II, para quem Teresa de Calcutá era a ´incansável benfeitora
da humanidade. A canonização equivale ao reconhecimento oficial pela Igreja de que a
pessoa está no paraíso, sendo necessário que, depois da morte, esteja
na origem de dois milagres, um para a beatificação e o segundo para a
canonização, sinais da proximidade com Deus.
Para as Missionárias da Caridades, a religiosa indiana já era santa desde o dia em que morreu, a 05 de setembro de 1997. ´A canonização nada muda, mas é uma aceitação oficial da Igreja e
isso dá esperança´, afirmou a irmã Martin de Porres, de 76 anos. De
aspecto frágil, envolta num sari branco com três riscas azuis, mas tenaz
e pragmática, madre Teresa tornou-se num símbolo da ajuda aos ´mais
pobres dos pobres´, aos quais dedicou a vida. O seu compromisso
incansável foi distinguido com o prêmio Nobel da Paz em 1979.
Nascida a 26 de agosto de 1910 numa família albanesa em Skopje
(Macedônia), Agnes Gonxha Bojaxhiu entrou aos 18 anos na ordem das irmãs
de Nossa Senhora do Loreto em Dublin (Irlanda), onde tomou o nome de
Teresa, em homenagem a Santa Teresa de Lisieux.
Enviada para Calcutá, ensinou durante alguns anos numa escola para
meninas de famílias abastadas, antes de receber ´o apelo no apelo´, uma
vocação para servir Deus através dos mais pobres.
No início de 1948, instalou-se num bairro de lata de Calcutá para
tratar e ensinar. Antigas alunas juntaram-se à professora, tornando-se
com ela nas primeiras Missionárias da Caridade. Em 1952, o encontro com uma mulher moribunda num passeio de Calcutá
levou Teresa a conseguir, junto das autoridades da cidade, um velho
edifício para receber doentes terminais que os hospitais já não queriam
cuidar.
Em seguida, abriu um orfanato, Sishu Bhavan, e depois uma leprosaria,
em Shantinagar. Atualmente, cerca de cinco mil Missionárias da
Caridade, estão presentes em todo o mundo, sempre com o mesmo modo de
vida austero. Teresa morreu na casa-mãe da congregação, em Calcutá, em 1997, com 87
anos. O túmulo encontra-se no local e todos os dias é decorado com uma
palavra escrita com pétalas de flores.
O Papa João Paulo II admirava a religiosa, enquanto Francisco, que a
encontrou em 1994, em Roma, contou ter ficado impressionado pela
determinação de ferro dela.´Teria medo se ela fosse a minha superiora´,
disse então o atual pontífice. Madre Teresa também conheceu alguns detratores, que a acusaram de ter
se mostrado pouco preocupada em relação à origem das dádivas recebidas e
de se ter mantido intransigentemente contra a contracepção e o aborto,
respeitando a linha da Igreja, mas sem olhar para as famílias que viviam
na miséria.
O processo canônico que levou à beatificação de Teresa de Calcutá
mostrou, através de excertos da correspondência pessoal, o sofrimento
relativamente à fé durante a maior parte da sua vida e que a levou, por
vezes, a duvidar da existência de Deus. ´Jesus tem um amor muito especial por vós. Para mim, o silêncio e o
vazio são tão marcantes que olho e não vejo, que escuto e não ouço´,
escreveu em 1979 a um confessor. Em 2003, cerca de 300 mil fiéis
assistiram às celebrações de beatificação na praça de São Pedro.