George Moura, autor da minissérie 'Amores Roubados' explicou por que
decidiu alterar o final do livro 'A Emparedada da Rua Nova', no qual se
baseou para escrever a trama. A mudança provocou alguma polêmica entre
os espectadores que acompanharam a série, cujo décimo e último capítulo
foi exibido na noite da última sexta-feira (17).
"Foi uma escolha
difícil, muito pensada, conversada, refletida, que me tirou algumas
noites de sono. No original do maravilhoso livro de Carneiro Vilela, a
questão central é a moral do século 19. Antônia fica grávida de Leandro e
não pode aparecer assim para a sociedade; grávida e sem um marido para
casar. Jaime então propõe à filha que ela faça um casamento de
conveniência com João, no original, seu primo legítimo. Era muito comum
nessa época casamento entre primos. João aceita a proposta, mas Antônia
se rebela. Diante disso, Jaime, para manter as aparências na tradicional
sociedade recifense, toma uma atitude extrema. Ele empareda a filha
viva e grávida dentro de um cômodo da própria casa. Esse caráter moral
da punição já não faz sentido em pleno século 21", comenta.
"Diante
desta constatação foi preciso repensar o desfecho desse folhetim do
século 19 para uma minissérie que se passa e é vista no século 21.
Acredito que a maior punição para Jaime, nos dias de hoje, é que toda a
sua riqueza, construída com afinco ao longo da vida, seja herdada pelo
filho de um homem que ele matou. Quer punição maior do que esta para um
homem que dedicou a vida para construir um império de dinheiro e poder? E
ainda mais: as mulheres hoje estão cada dia mais fortes. Antônia e
Isabel, cada uma a seu modo, conseguem se solevar no final. E Leandro,
amor verdadeiro de Antônia, renasce, à margem do rio São Francisco, em
forma de um filho. O rio, com sua água pura, além de fazer o sertão
frutificar, leva tudo, até as grandes mágoas. Como diz o poeta Ferreira
Gullar: 'O que passou, passou. Jamais acenderá, de novo, o lume que
apagou' ", finalizou.