A primeira vez que o legítimo queijo do Seridó do RN cruzou o Oceano Atlântico já foi suficiente para render frutos. Estreando na Mondial Du Fromage em Tours, na França, competição mundial de queijo, representado pelo produtor Lucenildo Firmino de Tenente Laurentino, o queijo seridoense deve ganhar novo sabor em um futuro próximo. Ao trocar experiências com quase mil produtores do mundo inteiro, Lucenildo já tem uma meta para quando sua queijeira estiver pronta: quer maturar queijo e, assim, agregar mais valor ao produto.
“Experimentei queijos maturados em cavernas, que passaram até quatro anos nesse processo até ficarem prontos e todos têm um valor agregado em cima disso. Estamos com essa ideia de implantar a produção de queijo envelhecido, com sabor mais apurado. Já estamos em contato com compradores de São Paulo e Minas Gerais. Assim que a queijeira estiver pronta, vamos correr atrás do certificado para vender para fora do RN”, projeta.
Participando da competição graças ao apoio do Governo do Estado via Governo Cidadão e Banco Mundial, Lucenildo, mais conhecido como Galego, voltou cheio de entusiasmo. Não trouxe nenhuma medalha da competição, mas a mala voltou cheia de ideias e planos. “Só de estar lá, representando os queijeiros do RN e o pequeno produtor rural, já é um prêmio. Levar nosso produto e nosso nome a um patamar mundial já foi uma grande conquista e vitória para mim”, diz.
Vinculado à Cooperativa Agropecuária do Seridó (Capesa), Galego é um dos 39 beneficiários do Edital de Leite e Derivados do Governo do Estado, que vai construir, equipar e regulamentar queijeiras no Seridó. A primeira mudança que o evento na França proporcionou a ele foi pensar em incluir uma câmara de maturação na sua queijeira.
A câmara de maturação é diferente de uma câmara fria tradicional. O equipamento conta com controle de temperatura e umidade e inicialmente não está previsto no projeto de Galego, que vai receber R$ 365 mil para construir seu empreendimento. Mas ele já adiantou conversas com a assistência técnica responsável pelo projeto para discutir a viabilidade da ideia. “Queremos investir cada vez mais em produtos diferenciados”, finaliza.
O secretário de Gestão de Projetos Fernando Mineiro foi um dos maiores defensores da ida do queijeiro até a França e comemora os resultados que a troca de experiências proporcionou. “O entusiasmo dele em agregar valor ao seu produto, levar algo diferente ao mercado, é uma demonstração clara de como foi importante apoiá-lo na ida ao evento. Significa que, como governo, estamos cumprindo nossa missão de incentivar o pequeno produtor e fortalecer a agricultura familiar do Estado”, enfatiza.
A experiência na França
Além do estande brasileiro com produtos de várias partes do país, a iguaria de Galego também participou da maior mesa de queijo do mundo, que com 160 metros de comprimento passou a integrar o Guiness Book. A mesa foi montada para um jantar vip, com queijos de 987 produtores de 38 países, totalizando mais de mil variedades do produto. “Foi um prazer muito grande participar de um evento desse porte e eu tive orgulho de estar numa mesa como essa com nosso queijo de coalho”, pontua.
O evento de alcance mundial foi um marco para o queijo do Rio Grande do Norte, mas também na história do produtor, que coloca na rua 160 quilos de queijo de coalho diariamente. O item é produzido de maneira artesanal, na zona rural de Tenente Laurentino Cruz, com ajuda da esposa e de dois funcionários. Mas esse número vai mais do que dobrar quando a queijeira de Galego estiver construída e certificada.
O equipamento terá capacidade para processar até dois mil litros de leite, podendo ser em dois circuitos em turnos diferentes, totalizando quatro mil litros diários. O que na produção de Galego significa em torno de 360 quilos de queijo de coalho, além de uma pequena parcela de queijo de manteiga e manteiga de garrafa. Um dos maiores sonhos do produtor é ampliar mercado e conseguir eliminar a figura do atravessador de seu negócio.
Quando a nova queijeira estiver pronta, ele quer ampliar a produção e gerar mais empregos. “Hoje onde trabalho não é um lugar bonito de se ver, o ponto não é meu. Com esse projeto, abriu-se uma baita de uma porta, uma coisa que não sei nem explicar o que significa. Vou receber uma queijeira pronta, toda bonitinha, que eu só vou entrar pra fabricar meu queijo. É um sonho realizado”, comemora.
Saiba mais
No total, os recursos aplicados nas 39 queijeiras somam R$ 23 milhões e são oriundos do Edital de Apoio à Cadeia Produtiva do Leite e Derivados da Agricultura Familiar, lançado com intuito de dar apoio financeiro e técnico às organizações que produzem leite e derivados no Seridó.
O objetivo é a regularização sanitária das queijeiras por meio da adequação da infraestrutura, aquisição de maquinário e equipamento necessário, melhoria na logística do transporte, comercialização e capacitação dos funcionários da comunidade. A regularização é importante para que as cooperativas recebam o selo das instituições sanitárias vigentes: Serviço de Inspeção Municipal; Instituto de Defesa e Inspeção Sanitária (IDIARN); Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).