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19 de junho de 2019

Gari defende TCC vestido com farda de trabalho: “Antes eu tinha vergonha, hoje tenho orgulho”

“Trabalho e desigualdade social na contemporaneidade: reflexões sobre a invisibilidade dos agentes de limpeza pública”. O tema da pesquisa isoladamente já seria um assunto socialmente rico para qualquer estudante do curso de história de uma universidade pública. Mas para o gari Ednilson de Pontes Silva, 31 anos, tem um significado ainda maior.

Deninho, como é mais conhecido, chegou ao campus da Universidade Estadual da Paraíba, na cidade Guabira, vestido com o macacão que usa no trabalho para defender o seu TCC, em meio a amigos, familiares, professores e outros estudantes. Em 2013, ele foi aprovado no antigo vestibular da UEPB e iniciou a faculdade de história no ano seguinte.

“Antes eu tinha vergonha do meu trabalho, hoje eu tenho orgulho. Quando entrei na faculdade, passei uns dois períodos sem dizer qual era a minha profissão, mas depois vi que não tinha nada de errado em ser gari e que eu devia me orgulhar por exercer uma função importante e honesta, até que relatei minha história para os amigos em uma confraternização da turma e eles ficaram felizes por eu estar podendo ter acesso à universidade”, contou Ednilson ao Razões.

Tema do TCC e a decisão de ir para a defesa com a farda de gari
Ednilson também é filho de um gari. Seu Miguel Martins da Silva tem 60 anos de idade e continua exercendo o papel na sua cidade até hoje. O filho de seu Miguel teve uma trajetória difícil até se formar. Ele trabalhava pela manhã como gari e estudava à tarde. Para ir de Pirpirituba, cidade onde mora, à Guarabira, ele utilizava o ônibus escolar; depois, conseguiu comprar uma moto para ir assistir às aulas. O gari e estudante também dividia o tempo com as obrigações de casa, já que foi pai durante o período em que estava fazendo o curso.

Deninho conta que decidiu pesquisar sobre a invisibilidade social que enfrentam os agentes de limpeza por causa da indiferença que sentiu na pele nas ruas. “Eu resolvi falar sobre este tema porque senti o quanto somos discriminados socialmente. Pesquisei sobre o tema e encontrei apenas um estudioso que se debruçou sobre o tema, então decidi mostrar a realidade desses trabalhadores tão sofridos e tão importantes”, ressalta Ednilson.

Mas ele não queria apenas discutir sobre o tema academicamente, queria chamar a atenção de toda a sociedade e, para isso, vestiu-se com a roupa do trabalho. “Eu sempre comentava com minha esposa que qualquer dia faria isso porque sempre vêm para as aulas policiais fardados, advogados de terno, enfermeiros de roupa de trabalho e por que não seria possível um gari vir com o fardamento do seu ofício? Que estranheza isso provoca? Meu objetivo era chocar mesmo e fazer refletir”, explicou.

Ednilson entrevistou dez garis para a elaboração da pesquisa. Ao fim da apresentação, a sua nota foi a máxima, 10, e o bolo de confraternização teve como tema os agentes de limpeza pública. “A gente que vem de baixo sabe o significado disso. É por isso que é tão importante a universidade pública de qualidade para quem não tem condições de pagar”, disse o gari e agora professor Ednilson Pontes.

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