A rejeição ao jornalismo da emissora carioca explica uma pequena fração do declínio no Ibope. Outras causas são bem mais danosas. A primeira é a retração do distanciamento social nas grandes cidades. As taxas caíram apesar do apelo “fique em casa” repetido pelas autoridades. Mais gente nas ruas por conta do comércio aberto até mais tarde significa menos público diante da TV na faixa nobre. Em São Paulo, principal área de aferição da Kantar Ibope, os estabelecimentos — lojas de rua, shoppings, restaurantes — funcionam até 21h, horário em que o ‘JN’ já passou da metade de sua duração.
Outro motivo para a fase de contração da audiência do principal jornalístico da Globo é a monotonia. As notícias parecem se repetir, edição após edição. A cobertura da pandemia de covid-19 se tornou invariável e previsível. Pouca coisa na política e na economia acontece sem estar atrelada à crise sanitária. Isso faz com que parte do público, entediado, deixe de ser fiel. Há uma terceira circunstância a afetar o desempenho do ‘JN’. A reexibição da novela que antecede o telejornal, ‘Salve-se Quem Puder’, e a do folhetim exibido depois, ‘Império’, estão abaixo da expectativa.
Menos público herdado de uma trama e menos telespectadores que sintonizam a Globo à espera da próxima tiram pontos preciosos de audiência do ‘Jornal Nacional’. Esses três fatores não podem ser resolvidos facilmente. Como editor-chefe do ‘JN’, William Bonner tem a opção de expandir a linha editorial com pautas mais atrativas. Em relação à diminuição do distanciamento social e ao desinteresse de parte dos noveleiros pelas reprises atuais, nada pode ser feito pelo todo-poderoso do telejornalismo brasileiro.