No caso do governo, o aumento dos preços mostra que não será simples a tentativa do Planalto de reduzir a inflação, que tem causado prejuízos recorrentes à popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Daí, o anúncio do corte do imposto de importação de vários produtos, feito por Brasília.
Tal aumento já está previsto nos comunicados emitidos pelo Copom. Mas, para Bruno Shahini, especialista em investimentos da fintech Nomad, o resultado do IPCA deve resultar numa “comunicação dura, que possa garantir que a autoridade monetária fará tudo ao seu alcance para a convergência das expectativas de inflação”.
Juros mais altos
Nessa mesma linha, Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo, observa que o resultado do IPCA indica que a “inflação está disseminada e em patamar incompatível com a meta de inflação, demandando uma postura firme do Banco Central”. “Isso reforça a manutenção da alta de 1 ponto percentual da Selic na reunião de março”, diz. “E acreditamos que a deterioração do cenário inflacionário exigirá a continuidade do ciclo, com uma elevação de 0,50 ponto na reunião de maio, levando a taxa Selic para 14,75% ao ano.”
Pressão dos alimentos
O economista André Braz, coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), nota que a alimentação deve continuar como a protagonista da alta de preços em março. “Não é à toa que o governo está tentando diminuir essas pressões com redução de taxas de importação”, afirma. “Mas esse fator vai continuar no radar por alguns meses.”
O economista nota que o preço de alguns produtos aumentou como resultado de um “choque de oferta”. Ou seja, houve uma diminuição das vendas, em paralelo a um aumento da demanda. “Quando não tem um produto para vender, não adianta subir juros”, diz. “Pode colocar os juros lá em cima que o preço não vai diminuir.”