O ano de 2018 é fundamental para a tradicional elite política do Rio Grande do Norte. Há um forte odor de aposentadoria para vários nomes que estão no comando do Estado desde a década de 1980. É um ciclo natural que um dia a democracia termina por impor.
O caso mais emblemático é o do senador José Agripino (DEM). Ele nunca soube o que é estar por baixo em termos políticos. Começou a carreira política em 1979 alinhado com a ditadura militar sendo nomeado prefeito de Natal pelo primo e governador de então Lavoisier Maia.
Em 1982, beneficiado pelo voto vinculado, impôs uma derrota acachapante de quase 107 mil de maioria sobre o lendário Aluízio Alves. Um dos governadores mais jovens do país ele ajudou a fundar a Frente Liberal que abriu dissidência no PDS e deu o tiro de misericórdia no regime dos fardados.
Agripino ainda foi eleito senador em 1986 e governador novamente quatro anos depois. Desde 1994 se reelege seguidas vezes ao Senado sem grandes dificuldades. Mas isso provoca desgaste e a reeleição dele está ameaçada como nunca esteve em 2018. A realidade impõe o recuo que muitas vezes é necessário.
Agripino nunca soube o que é ficar por baixo. Para uma carreira vitoriosa como a dele ir para a Câmara dos Deputados é uma derrota para o ego e um êxito para a razão. Trata-se de um recuo estratégico e necessário que outros políticos fizeram no passado e vão fazer também nessas eleições.
Acima da vaidade está a sobrevivência. Agripino precisa de um mandato federal não só para seguir na política com alguma influência, mas também para manter os benefícios do foro privilegiado. Ele está réu em dois processos no Supremo Tribunal Federal (STF) e caso fique sem as vantagens que o mandato lhe confere ele fica nas garras dos rigores dos juízes de primeira instância.
A hipótese dele desistir da reeleição é real? O próprio Agripino diz que sim. Pelo menos é o que fica nas entrelinhas da declaração oficial enviada pela Assessoria de Imprensa do Parlamentar: “O que está em cogitação são apoios de novos partidos à candidatura de Carlos Eduardo. Isso abre negociações em torno da chapa. Essa negociação é que está sendo cogitada”.
O altruísmo de Agripino para garantir a eleição de Carlos Eduardo Alves (PDT) ao Governo do Estado soa comovente aos amigos do senador. Mas imaginemos o que pensaria um potiguar que entrou em coma em 1998 e acordou em coma e acordasse com essa informação? Certamente ele cairia numa crise de risos e voltaria ao coma. Um Maia se “sacrificar” por um Alves no RN?
De fato, as rivalidades ficaram no passado, mas Agripino estaria dando um passo considerável para ao menos provisoriamente deixar a condição de líder para liderado. Na prática o que está em jogo é a sobrevivência de uma das principais lideranças políticas do Rio Grande do Norte. Na Câmara dos Deputados ele ganha os mesmos direitos de um senador. Pelo menos em termos de prerrogativa de foro.
Por Bruno Barreto