Tribuna do Norte - À frente da
Secretaria de Estado de Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed),
há quase dois meses, a delegada Sheila Freitas comentou problemas da
segurança no Rio Grande do Norte e divulgou ações que estão sendo feitas
para combater as altas taxas de homicídio no estado. Para a secretária,
o maior desafio da pasta é combater o tráfico de drogas, bem como o
crime organizado. Sheila afirmou que a falta de efetivo é um dos
entraves para melhorar a segurança e anunciou que o edital do concurso
para Polícia Militar deve ser divulgado até o final do mês de junho.
Sheila
Freitas criticou as audiências de custódia do judiciário. Ela disse que
70% dos crimes cometidos são de pessoas que já tiveram passagem pela
polícia. “A PM e Polícia Civil nunca prenderam tanto. Desses 25% são
jovens de 12 a 17 anos, que nem ficam internados na maioria das vezes, e
saem da delegacia rindo do policial que arriscou a vida para prendê-lo.
A certeza da impunidade é grande, e isso fomenta o aumento da
criminalidade”, disse a delegada.
Um convênio com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Governo Federal, que possibilitará o pagamento de R$ 3 milhões em diárias operacionais para a polícia, não tem perspectiva de chegar aos cofres estaduais, segundo Sheila Freitas. “Já era para ter chegado, os problemas foram as mudanças operadas em Brasília, a mudança de ministros. Está tudo assinado, mas não há previsão”, confirmou Sheila Freitas.
Um convênio com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Governo Federal, que possibilitará o pagamento de R$ 3 milhões em diárias operacionais para a polícia, não tem perspectiva de chegar aos cofres estaduais, segundo Sheila Freitas. “Já era para ter chegado, os problemas foram as mudanças operadas em Brasília, a mudança de ministros. Está tudo assinado, mas não há previsão”, confirmou Sheila Freitas.
A Sesed omite dados sobre a segurança pública, como número de homicídios? A
Sesed não tem interesse em de camuflar nenhum dado. Os dados de
homicídios são abertos, os corpos são levados ao ITEP e lá tem uma
contagem que é feita. O interesse da secretaria é a redução desse número
de homicídios, trabalhar para reduzir. A gente precisa divulgar para
contar com o apoio da imprensa e da população. Muitas vezes, tem um
homicídio e pedimos à imprensa para ligarem no 181 e colaborarem.
Na
semana passada tivemos mais um Policial Militar assassinado. Não
observamos os índices de violência reduzindo no Rio Grande do Norte. A
que vocês atribuem isso?
São vários
fatores. Para se reduzir a criminalidade precisa de muita coisa. Uma
delas é um efetivo maior de policiamento, não haver a quantidade de
fugas (do sistema prisional) que estão acontecendo. A cada dia a gente
tira muitas armas de circulação mas a bandidagem está muito armada e
tudo isso associado ao tráfico de drogas. O pessoal está matando para
roubar um celular. Imagens mostram que o policial estava falando no
celular e foi caminhando até o carro, e foi justamente essa displicência
dele que chamou atenção. Os bandidos estão procurando quem esteja mais
vulnerável e aquela hora da manhã ele parecia ser uma pessoa vulnerável.
Na hora da ocorrência devem ter percebido que ele estava armado. O
ataque não foi a um policial e sim a um cidadão. Infelizmente o número
não está reduzindo porque aumentou a criminalidade, diminuiu o número de
policiais por causa das aposentadorias. O governo está a cada dia
lutando para que saiam concursos públicos para novas contratações.
Chegamos a uma situação que uma pessoa não pode usar um celular na rua...
Eu contesto
o que você está dizendo. Toda hora vemos pessoas usando celulares nas
ruas e elas não são mortas e nem roubadas. Temos uma parcela que depende
de horários e locais. Temos que ter cuidado com essas notícias. O
momento e local favoreceram. Existe uma criminalidade grande mas não
existe um bandido por pessoa.
O perfil dos criminosos mudou?
A mudança
diz respeito a globalização do crime. Antigamente o homicida só matava,
era o pistoleiro, outro só fazia roubo de banco, traficava, cometia
pequenos furtos nas feiras e locais públicos, o estuprador e isso mudou.
Com o incremento do consumo e tráfico de drogas, que reputo como maior
causa da criminalidade, porque o tráfico dá o dinheiro muito rápido,
isso tudo aliado ao desemprego, falta de escola, desestrutura da escola e
familiar, tudo é um questão que tem uma base social. Os estudos apontam
que a criminalidade vem crescendo a medida que as políticas públicas
sociais estão falhando. Ainda temos um sistema criminal, com leis
antigas que se pode dizer que o crime compensa, porque os criminosos
praticam os crimes e logo cedo estão nas ruas. A gente verifica que 70%
dos crimes cometidos são reincidentes. Temos um exemplo desse ano, que
uma pessoa foi presa em janeiro por porte ilegal de arma e depois solta,
em fevereiro por outro porte de arma e solto, em março foi pego por
tráfico. Preso em três bairros diferentes, Cidade Alta, Rocas e Nossa
Senhora da Apresentação, é um exemplo de como essa pessoa circulou em
nossa cidade, ela podia ter matado pessoas e a gente ainda não ter
identificado.
Como a Sesed acompanha essa situação? Qual a resposta é dada?
Existe o
que chamamos de mancha criminal, temos um mapeamento de onde está
acontecendo mais roubo, furto, tráfico e morte. Em Natal houve um
acréscimo do ano passado pra cá e em Parnamirim houve uma diminuição.
Onde tem atuação da polícia, há uma redução, mas o crime migra. Na
maioria das cidades onde houve uma acréscimo de homicídios foi onde
ocorreram chacinas. Hoje temos o bairro de Nossa Senhora da
apresentação, na zona Norte, como o mais violento e intensificamos os
trabalhos lá. Atuamos de acordo com as manchas criminais. Em Felipe
Camarão houve uma redução porque no ano passado era o bairro mais
perigoso e fizemos um trabalho lá. A Força Nacional está localizada em
Felipe Camarão, mas hoje atua em Nossa Senhora da Apresentação e
Ceará-Mirim. Outro bairro, Cidade da Esperança, houve uma redução. O
ideal era que tivéssemos o número de policiais ideal para cobrir todas
as regiões, mas não temos, mas isso não é culpa dessa gestão. Estamos
sem concurso há anos, e esse ano o governador (Robinson Faria) fez uma
coisa que nenhum outro fez, concurso pra bombeiro, soldado e oficial e
ainda vai sair para Polícia Civil, Polícia Militar e ITEP.
Quando vai ser publicado o edital para a Polícia Militar?
A gente acredita que em junho ainda, tanto para soldados como oficiais, são 600 vagas.
Como se combate a ação do tráfico onde a polícia não entre constantemente?
Não temos
ilhas de excelência dominadas por facções. Sabemos que existiam redutos
como Mãe Luiza e comunidade do Mosquito, mas a polícia entra na hora que
precisa. O que falta entrar nessas comunidades não é a polícia. O que
falta são ações sociais dentro dos redutos, são bairros periféricos que
foram relegados pelo serviço público, falta escola, moradia, esgoto,
iluminação, emprego, é todo um somatório que leva as periferias a ter o
maior índice de criminalidade, tanto acontecendo lá como exportando,
quando os moradores estão saindo dos bairros para cometer crimes.
Quais são as ações preventivas?
De várias
formas. O policiamento ostensivo nas ruas, blitze, trabalhos
investigativos monitorando os grandes traficantes. Não tem como
monitorar os pequenos traficantes, a ideia é pegar o maior porque ele
alimenta. Os pequenos muitas vezes nem portam a droga, eles são a a
ponta que aumenta os números na cadeia ou são liberados logo.
O que é mais urgente, investir em investigação (Polícia Civil) os ostensividade (Polícia Militar)?
Tudo é
urgente. A Polícia Militar conta com 8 mil homens e ela precisa de 14
mil. A polícia investigativa tem 1.400 e precisa de 5.300, e também é
urgente. Está se usando uma estratégia de dar um reforço maior ao DHPP,
pois estamos vendo que o número da divisão de homicídios estão no contra
fluxo da violência, sobretudo em todo o estado. Esse ano em Natal,
ocorreram menos de 300 homicídios, e como a divisão legalmente só atua
em Natal, teve uma resolução de 50%. Todas foram investigadas, mas a
metade foi resolvida, foi um índice nunca visto. Uma coisa é ter um
crime que aconteceu em um local com câmeras e pessoas que viram e
queiram falar, outra é ter em uma mancha criminal em que quando chega
lá, ninguém sabe e nem viu, muitas pessoas modificam a cena do crime
antes da polícia chegar, tiram até projéteis.
O modelo das Áreas Integradas (AISP) ainda é utilizado? Ele é eficaz para o atual momento que vivemos?
Sim.
A dificuldade que ela passa é que é do registro da perda de documentos
nas delegacias, quando ela devia só se ater a crime. Perda de documento é
uma prestação de serviço importante para a sociedade, mas na hora que a
delegacia gasta 40 a 50% do tempo para registrar esse tipo de
ocorrência, quando isso pode ser feito pelo site.