“Como, eu não sei, só sei que estudei bastante”. A resposta do
estudante do 1º ano do ensino médio, Lucielio Cavalcante, sobre como
teria conseguido acertar mais de 96% das questões do ENEM, foi rápida e
objetiva. Dos 180 questionamentos do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM),
realizado no último final de semana em todo o Brasil, Lucielio acertou
174. Para ele, a conquista foi algo que não esperava. “Quase caio da
cadeira. Eu contei três vezes para acreditar no que eu estava vendo”,
declarou.
Francisco Lucielio Cavalcante de Freitas tem 18 anos e reside no
município de São Miguel, situado na região do Alto Oeste do Rio Grande
do Norte. Nasceu com paraplegia e só consegue andar com a ajuda de outra
pessoa. Garoto humilde e bastante religioso, mora sozinho com a mãe desde que
nasceu. Isso por que seu pai morreu de intoxicação quando ele completou
três dias de nascido.
Apesar das dificuldades, Lucielio aposta nos estudos como forma de
superar todas as barreiras que lhe foram impostas ao longo da vida. Quando residia na zona rural, por exemplo, Lucielio era levado para
escola nas costas da mãe. “Teve uma época em que minha mãe me acordava
cedo, me colocava na ‘cacunda’ e me levava até o colégio”, revelou.
O transporte especial só chegou quando ele ingressou no 6º ano. A
prefeitura cedeu um transporte para leva-lo de casa até a escola e da
escola até em casa. “Agradeço muito a prefeitura por causa disso”, disse
Lucielio. Nem por isso, ele deixou de sonhar. Ao ser questionado sobre os
planos para o futuro, ele destaca que seu sonho é ser psicólogo,
profissão esta que acredita poder ajudar muitas pessoas.
“Sempre quis algo que fosse da área de medicina. Como eu não posso
ser pediatra ou cirurgião, por conta da minha deficiência, quero ser
psicólogo. Sou uma pessoa bastante comunicativa, e acho que isso pode
ajudar”, detalhou. No dia da prova, Lucielio contou que se apegou à Virgem Maria, para
que ela te ajudasse, uma vez que uma das maiores dificuldades era
preencher o cartão-resposta.
“Tive que tomar muito cuidado, por que eu costumo marcar nos locais
errados, devido a minha deficiência. Então, eu pedi à Virgem Maria, e
ela ouviu minhas preces”, relatou. “Sempre tive o apoio das pessoas ao
meu redor. Inclusive, meu ex-professor de matemática, Leonardo, me disse
que ia me dar uns ‘cascudos’ se eu não acertasse pelo menos 60
questões”, revelou com um sorriso no rosto.