A festa para
comemorar os 36 anos do PT, na noite deste sábado (27), é marcada por um
desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até mesmo nas
paredes de tijolo aparente do Armazém da Utopia, forradas de homenagens a
ele. Mas a presidente Dilma Rousseff não foi poupada. “Dilma, chega de
ajuste fiscal e superávit!”, dizia uma das faixas seguradas por
militantes na plateia, escancarando a insatisfação com medidas tomadas
pela presidente, que não compareceu à festa.
A cúpula do PT bem que tentou segurar as críticas a Dilma, mas não
conseguiu. Lula, porém, só recebeu afagos, ao menos dentro do salão.
Num ambiente a meia luz, sob holofotes vermelhos, uma das principais
portas do Armazém da Utopia, na zona portuária do Rio, exibia uma faixa
com a inscrição “Companheiro Lula, a militância petista está com você”.
Quando chegou para a comemoração, porém, Lula encontrou um ato
esvaziado. No espaço com capacidade para 4 mil pessoas, havia menos de
1,5 mil. Dirigentes do partido previam 3 mil, presentes. Houve, porém,
gritos entusiasmados de “Dirceu/guerreiro/do povo brasileiro” – uma
alusão ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado pelo mensalão
e preso novamente na Operação Lava Jato. A carta da presidente Dilma
Rousseff foi saudada pela palavra de ordem “Não vai ter golpe”, seguida
por gritos pouco entusiasmados de “Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma.”
Do lado de fora, barracas tentavam reviver o clima do PT dos anos 80,
quando filiados vendiam camisetas para arrecadar recursos e contribuir
com as campanhas. “Lula, siga em frente, o povo está do seu lado”, dizia
um dos modelos de camisetas vendidas por R$ 18, no espírito de
desagravo que tomou conta do partido desde que Lula passou a ser alvo
de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. Havia
também opções com a estrela do PT, a imagem de Che Guevara e até um “Xô,
golpistas”, manifestando a rejeição ao impeachment de Dilma.
A dona de casa Maria Baldan, de 52 anos, “petista desde os 18”, levou
para a festa um boneco de pelúcia de Lula, comprado em 2006, último ano
do primeiro mandato do petista. O boneco, criação do artista plástico
Raul Mourão, vai com Maria para todos os eventos do PT. “A gente vive
uma grande crise moral no Brasil e não adianta criminalizar o PT”, disse
a militante, que, no entanto, também criticou o partido. “É preciso
repensar alianças escusas, não dá para abraçar o PMDB, essa gente”,
afirmou a petista, admiradora de Dilma. “Confio nela”, elogiou.
A dupla Celso Sá, de 66 anos, e Náustria Albuquerque, de 46, fez sucesso
com o adereço criado para o carnaval deste ano: a ave que simboliza o
PSDB feita de material reciclado, com a placa: “primeiro tucano preso no
Brasil”. Eles repetiram o discurso dos petistas que cobram
investigações de políticos do PSDB citados na Lava Jato e apuração sobre
a denúncia de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso usou uma
empresa privada para enviar dinheiro ao exterior, para a jornalista
Mirian Dutra, com quem teve um relacionamento. Fernando Henrique nega
que tenha recorrido à empresa Brasif S. A. para enviar recursos, como
disse Mirian.
“O Brasil tem uma certa dificuldade de prender tucano, a não ser no
zoológico”, ironizou Celso. Funcionário do Conselho Regional de
Engenharia e Arquitetura (Crea), ele exaltou a festa petista como um
momento de juntar “jovens e veteranos”. “Hoje, por falta de festa, a
gentes só encontra petistas nos enterros. Hoje vai ser diferente”,
brincou.
Marcada para as 18 horas, a festa demorou para engrenar,mesmo com xote,
samba e MPB em alto volume. Às 19 horas, o galpão parecia grande demais
para tão pouca gente. As pessoas circulavam pelo bar, pelas barraquinhas
de comida e pelo quiosque das camisetas, à beira da Baía de Guanabara.
As atrações musicais da noite foram o sambista Diogo Nogueira e a
bateria da Portela, contratada pelo PT por R$ 7 mil, segundo a
assessoria de imprensa da escola. A assessoria de Diogo não informou o
cachê cobrado pelo artista. Disse que se tratva de um “contrato
profissional como outro qualquer” e que Diogo não tem vínculo com o
partido.
A assessoria de imprensa do PT disse não ter fechado o valor total da
festa e que os gastos serão informados na prestação de contas enviada à
Justiça Eleitoral. No carnaval de 2015, Diogo, com sua banda, foi
contratado pela prefeitura do Rio para cantar no Terreirão do Samba por
R$ 95 mil. No réveillon de 2013, quando os artistas elevam o preço dos
cachês, o show do sambista custou R$ 250 mil, também pagos pela
prefeitura, como informa o portal de transparência do município.