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27 de fevereiro de 2016

Festa do PT, esvaziada, tem críticas a Dilma e desagravo a Lula

A festa para comemorar os 36 anos do PT, na noite deste sábado (27), é marcada por um desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até mesmo nas paredes de tijolo aparente do Armazém da Utopia, forradas de homenagens a ele. Mas a presidente Dilma Rousseff não foi poupada. “Dilma, chega de ajuste fiscal e superávit!”, dizia uma das faixas seguradas por militantes na plateia, escancarando a insatisfação com medidas tomadas pela presidente, que não compareceu à festa.

A cúpula do PT bem que tentou segurar as críticas a Dilma, mas não conseguiu. Lula, porém, só recebeu afagos, ao menos dentro do salão. Num ambiente a meia luz, sob holofotes vermelhos, uma das principais portas do Armazém da Utopia, na zona portuária do Rio, exibia uma faixa com a inscrição “Companheiro Lula, a militância petista está com você”.

Quando chegou para a comemoração, porém, Lula encontrou um ato esvaziado. No espaço com capacidade para 4 mil pessoas, havia menos de 1,5 mil. Dirigentes do partido previam 3 mil, presentes. Houve, porém, gritos entusiasmados de “Dirceu/guerreiro/do povo brasileiro” – uma alusão ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado pelo mensalão e preso novamente na Operação Lava Jato. A carta da presidente Dilma Rousseff foi saudada pela palavra de ordem “Não vai ter golpe”, seguida por gritos pouco entusiasmados de “Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma.”

Do lado de fora, barracas tentavam reviver o clima do PT dos anos 80, quando filiados vendiam camisetas para arrecadar recursos e contribuir com as campanhas. “Lula, siga em frente, o povo está do seu lado”, dizia um dos modelos de camisetas vendidas por R$ 18, no espírito de desagravo que tomou conta do partido desde que Lula passou a ser alvo de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. Havia também opções com a estrela do PT, a imagem de Che Guevara e até um “Xô, golpistas”, manifestando a rejeição ao impeachment de Dilma. 

A dona de casa Maria Baldan, de 52 anos, “petista desde os 18”, levou para a festa um boneco de pelúcia de Lula, comprado em 2006, último ano do primeiro mandato do petista. O boneco, criação do artista plástico Raul Mourão, vai com Maria para todos os eventos do PT. “A gente vive uma grande crise moral no Brasil e não adianta criminalizar o PT”, disse a militante, que, no entanto, também criticou o partido. “É preciso repensar alianças escusas, não dá para abraçar o PMDB, essa gente”, afirmou a petista, admiradora de Dilma. “Confio nela”, elogiou. 

A dupla Celso Sá, de 66 anos, e Náustria Albuquerque, de 46, fez sucesso com o adereço criado para o carnaval deste ano: a ave que simboliza o PSDB feita de material reciclado, com a placa: “primeiro tucano preso no Brasil”. Eles repetiram o discurso dos petistas que cobram investigações de políticos do PSDB citados na Lava Jato e apuração sobre a denúncia de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso usou uma empresa privada para enviar dinheiro ao exterior, para a jornalista Mirian Dutra, com quem teve um relacionamento. Fernando Henrique nega que tenha recorrido à empresa Brasif S. A. para enviar recursos, como disse Mirian.

“O Brasil tem uma certa dificuldade de prender tucano, a não ser no zoológico”, ironizou Celso. Funcionário do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), ele exaltou a festa petista como um momento de juntar “jovens e veteranos”. “Hoje, por falta de festa, a gentes só encontra petistas nos enterros. Hoje vai ser diferente”, brincou. 

Marcada para as 18 horas, a festa demorou para engrenar,mesmo com xote, samba e MPB em alto volume. Às 19 horas, o galpão parecia grande demais para tão pouca gente. As pessoas circulavam pelo bar, pelas barraquinhas de comida e pelo quiosque das camisetas, à beira da Baía de Guanabara. 

As atrações musicais da noite foram o sambista Diogo Nogueira e a bateria da Portela, contratada pelo PT por R$ 7 mil, segundo a assessoria de imprensa da escola. A assessoria de Diogo não informou o cachê cobrado pelo artista. Disse que se tratva de um “contrato profissional como outro qualquer” e que Diogo não tem vínculo com o partido. 

A assessoria de imprensa do PT disse não ter fechado o valor total da festa e que os gastos serão informados na prestação de contas enviada à Justiça Eleitoral. No carnaval de 2015, Diogo, com sua banda, foi contratado pela prefeitura do Rio para cantar no Terreirão do Samba por R$ 95 mil. No réveillon de 2013, quando os artistas elevam o preço dos cachês, o show do sambista custou R$ 250 mil, também pagos pela prefeitura, como informa o portal de transparência do município.

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