“Estou entre Lula e Bolsonaro”. O motorista paraibano Rodrigo Silva Damacena foi PT até 2014 mas, este ano, caso o ex-presidente petista seja impedido de concorrer, cogita votar no capitão reformado do Exército.
Aos 27 anos, lembra-se dos governos Lula como época em que as pessoas compravam com mais facilidade e sua família tinha acesso a programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Há dois anos, desistiu de procurar emprego na sua área —mecânica de refrigeração para trabalhar como motorista em João Pessoa. O desemprego, afirma Damacena, é mais um sinal da crise econômica que começou a sentir durante o governo Dilma Rousseff (PT). Mas a justificativa para um possível voto em Jair Bolsonaro (PSL) é outra: ordem e segurança.
“Tem muita gente que vai votar nele porque pensa que, já que é ele da polícia, ou coisa assim, vai ajeitar o Brasil botando regra e lei”, explica. Bolsonaro ainda é pouco conhecido entre os nordestinos ao contrário de Lula, um ícone na região, mas seu discurso focado em segurança seduz parte do eleitorado lulista que, desta vez, não quer votar no herdeiro do ex-presidente.
O candidato a vice na chapa do PT, Fernando Haddad, que hoje tem apenas 4% nas pesquisas, também não convence o garçom Luís Delon, que vive a 900 km de Damacena. Nascido no Rio, estado de Bolsonaro, Delon se mudou para Salvador origem de sua família para fugir das marcas de violência fluminense que alcançam índices como 43 tiroteios em um único dia.
Eleitor de Lula desde 2002, o garçom de um tradicional restaurante da capital baiana diz que foi contra o impeachment de Dilma, mas que agora é preciso focar na “violência zero”. Por isso, explica, votará em Bolsonaro. “Ele vai botar as Forças Armadas nas ruas. Hoje um cara mata alguém e rapidinho está solto de novo. Não dá pra ser assim”, completa.
A capacidade de colocar o país em ordem, com Exército auxiliando no patrulhamento urbano e aplicação de penas severas aos criminosos, é a principal justificativa dos nordestinos no salto de preferência de Lula para Bolsonaro. O Datafolha mostra que o petista tem 39% das intenções de voto, seguido pelo deputado, com 19%. Quando Lula está fora da disputa, Bolsonaro vai a 22% e pelo menos 7% dos eleitores do petista migram para o capitão reformado.
O número é baixo os principais beneficiários do espólio lulista são Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) mas bem próximo dos 9% registrados por Fernando Haddad. Para mudar esse quadro, a aposta do PT é expor o ex-prefeito de São Paulo como o representante de Lula, ancorado na capacidade de transferência de votos do ex-presidente.
Dirigentes petistas e auxiliares de Bolsonaro fazem a mesma leitura do cenário: o eleitor de Lula não é ideológico e, ainda sem conhecer o nome que substituirá o ex-presidente caso ele seja impedido de concorrer, pode ser facilmente conquistado por um perfil como o de Bolsonaro. Assim como Lula, ele fala o que pensa, de forma simples e direta. E esse “papo reto” faz diferença para Silvio Amâncio da Silva, por exemplo, dono de uma loja de autopeças no centro de João Pessoa.
“Bolsonaro traz a mudança. Em 1964, tinha emprego e não sufoco”, afirma o comerciante de 77 anos, em referência à ditadura militar, defendida pelo capitão reformado. Ainda que a rejeição a Bolsonaro tenha crescido no Nordeste, chegando a 50% na região, os próprios eleitores dizem não ser difícil encontrar um ex-lulista que este ano vai optar pelo deputado a maioria, porém, é de homens. “Eu, meus quatro filhos e minhas quatro noras votaremos no militar”, diz Silva. “As noras, porque seguem os maridos”, completa.