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16 de agosto de 2018

Militância compara Lula a Jesus Cristo e ataca custos do STF

A Esplanada dos Ministérios todo mundo conhece, mas basta pegar uma avenida paralela, a caminho do Tribunal Superior Eleitoral, que uma quantidade inimaginada de grandes edifícios públicos, com siglas menos famosas, se dá a conhecer.

A Enamat (Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho), por exemplo, é um predião respeitabilíssimo, de vidros cor de âmbar, estendendo-se pelo que seriam uns dois belos quarteirões do Setor de Autarquias Sul, separado da estrutura do TSE por uma larga rua asfaltada. Por ali, apertavam-se os apoiadores da candidatura Lula na tarde de ontem.

Não seriam, certamente, os 50 mil anunciados do palanque. Talvez não chegassem a 10 mil, mas de qualquer modo cobriram de centenas de bandeiras vermelhas metade do perímetro da sede do tribunal, onde seria entregue oficialmente o pedido de registro do ex-presidente.

A cor unânime das bandeiras escondia, entretanto, a variedade dos lemas e dos desenhos que surgiam em cada camiseta, em cada faixa apresentada pelos militantes.

Contavam-se nos dedos os que correspondiam ao perfil de classe média intelectual. Predominavam trabalhadores de 40 anos ou mais, homens e mulheres com jeito de lavrador e sindicalista, não raro sentados no meio-fio, descansando da caminhada.

Não era pessoal que se animasse a ficar dançando ao som de grupos de percussão. Havia, claro, os grupos mais homogêneos e organizados de jovens, em especial os representantes do PCO. Mas as camisetas, como eu dizia, eram variadas.

Uma mulher tirou da gaveta a blusa que homenageava a Dilma “coração valente”. Um rapaz levava na camiseta preta o triângulo dos inconfidentes, em torno do qual se equilibravam os dizeres “Por Lula e pela paz no Brasil -Minas Gerais”.

“Lula vale a luta” e “Lula livre” faziam o modelo da camiseta básica do dia. Mas também havia “Lula live” (numa camisa cinza), e, num registro mais radical, “Ou Lula ou nada”.

Outros iam por caminhos mais abstratos. “Se tem banco público tem desenvolvimento”, dizia uma camisa amarela. Era vermelha, claro, a que simplesmente pregava “Revolução – Governo Operário – Socialismo”.

Menos aguerridos, vários manifestantes vestiam a ideia do “Brasil feliz de novo”. Nas costas de um ativista agrícola, o texto era mais lírico: “olha a terra à tua volta, deita-te no chão e sente o coração do mundo bater”.

Uma senhora de olhos claros aparecia com um cartaz, sem dúvida feito no computador de sua casa, dirigido à “Suprema Corte”: “Cumpra seu dever, faça justiça: Lula livre!” Amarrou uma rosa vermelha de papel em cima. Outro cartaz, outra senhora: Cristo e Lula, lado a lado, surgiam como “condenados sem provas”.

Numa linha mais próxima das preocupações da classe média com os gastos estatais, uma grande faixa verde fazia o apelo: “STF mais caro do mundo, cumpra sua obrigação, libertando Lula”.

Cada um desses subgrupos ou cabeças militantes parecia girar numa esfera própria, dando pouca atenção aos discursos políticos. O aplauso veio de uma vez quando se anunciou o registro da candidatura Lula.

Daí em diante, começou a dispersão. Fernando Haddad evitou o termo “companheirada”, que foi dos mais usados no evento. Dilma Rousseff, bastante aplaudida, prolongou-se mais do que o necessário. Um petroleiro, parecendo uma versão mais rude do próprio Lula, entusiasmava-se: “cá entre nós, essa Manuela é bonita mesmo!”

Um jovem, de voz arrastada, foi seguindo o caminho de casa. “É… balançoooou…” Uma pausa. “Agora, vamos veeeer”, suspirou. A sensação era de recado dado e dever cumprido, mas de pouca esperança.

FOLHAPRESS
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