Nos últimos anos, o Brasil aumentou três vezes o valor investido por aluno no ensino básico e deu importância a políticas como avaliações, base curricular e financiamento de estudantes em faculdades. No entanto, pouco olhou para a sala de aula. E os resultados da aprendizagem das crianças mostram que se caminha a passos lentos para chegar perto dos países que mudaram o rumo da sua educação. Ao olhar para as melhores experiências no mundo, especialistas garantem que só haverá evolução se o próximo governo investir fortemente no professor.
As mudanças em várias nações vêm da constatação de que a qualidade do docente é fator determinante para o ganho de aprendizagem do aluno. Um estudo recente, que tem entre os autores o economista da Universidade de Stanford Raj Chetty, analisou 2,5 milhões de crianças durante 20 anos nos Estados Unidos. Os dados revelaram que estudantes de um bom professor têm maior probabilidade de iniciar o ensino superior, entrar em faculdades de melhor qualidade, receber maiores salários e poupar mais para aposentadoria.
Outras pesquisas anteriores já indicavam que crianças que tiveram aulas com bons profissionais obtiveram um ganho médio de um ano de escolaridade. Melhores professores são particularmente importantes para crianças com perfil socioeconômico baixo. A atuação deles por anos seguidos pode mudar o destino de um aluno pobre e eliminar a distância de aprendizagem entre ele e um estudante de classe alta. Segundo pesquisas, um professor de qualidade tem o domínio do conteúdo que ensina e uma boa gestão de sala de aula, com estratégias que mantêm alunos envolvidos e técnicas de ensino eficazes.
“Não adianta nada discutir Base Curricular se a gente não conseguir resolver o problema do magistério”, diz a consultora e ex-secretária de Educação do Rio Grande do Sul Mariza Abreu. “Só podemos ter alguma esperança de que a educação vai melhorar quando a agenda do professor se tornar prioritária. É preciso uma mudança estrutural”, aponta o diretor de políticas educacionais do Movimento Todos pela Educação, Olavo Nogueira Filho.
Os professores apareceram na pauta do governo Michel Temer no começo deste ano, com um investimento de R$ 1 bilhão em 190 mil vagas para bolsas de estágios, residência pedagógica e formação. Mas o Brasil tem hoje 1,5 milhão de alunos em cursos de Educação e 2,1 milhões de docentes nas escolas. Outra comparação é o valor investido em outras políticas, como o Financiamento Estudantil (Fies), que beneficia alunos de universidades privadas. Em 2017, foram R$ 19 bilhões, 18 vezes mais que no programa para docentes – que ainda está com as bolsas ameaçadas por causa de cortes no orçamento.
O MEC, nos últimos anos, colocou esforços também para aprovar a Base Nacional Comum Curricular, que indica objetivos de aprendizagem para cada nível de ensino. As ideias tanto da Base quanto da reforma do ensino médio, que virou lei em 2017, preveem uma educação moderna e interdisciplinar. Algo muito distante da formação atual do professor.
Exemplos de países que deram saltos recentes, como Finlândia, Cingapura e Estônia, mostram que focar as políticas no professor significa agir em várias frentes. É preciso selecionar os melhores alunos do ensino médio para estudar Pedagogia, formar o professor com qualidade, ensinar práticas de ensino. Eles também fecharam cursos ruins e passaram a avaliar e orientar os que já estão trabalhando nas escolas – além de aumentar salários.
Uma experiência bem sucedidas são os programas de observação de sala de aula, que analisam práticas didáticas, atenção do aluno, materiais. Um projeto da Fundação Lemann em escolas do Ceará ensinou coordenadores a fazerem um trabalho de coaching dos professores. Depois disso, aumentou o tempo usado pelos docentes para conteúdos e atividades – eles perdiam horas com chamadas e indisciplina. Entre as técnicas aprendidas estavam a de ajudar o estudante a chegar sozinho à resposta certa, demonstrar altas expectativas para todos e avaliar constantemente.