As imagens de câmeras de segurança mostram o padrão: o carro estaciona, o passageiro está distraído ou com pressa para chegar em casa. Na hora do pagamento, o suposto taxista diz que a maquininha não aceita Pix e pede o cartão físico, mas sem aproximação. A vítima digita a senha, a corrida é paga e ela desce do carro sem desconfiar de nada. Só depois, ao checar o extrato ou receber uma notificação do banco, descobre que teve a conta esvaziada.
A polícia descobriu que os criminosos usam maquininhas adulteradas. Um botão camuflado permite que o golpista simule um erro na transação e visualize a senha digitada. “Ele já tem a senha sua, os dados do banco seu aqui, tudo, e o cartão trocado. Tá pronto para ele aplicar o golpe”, explicou o delegado André Figueiredo. Com esses dados, os estelionatários fazem compras de até R$ 17 mil. A estimativa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública é de que o golpe da maquininha tenha causado um prejuízo de R$ 4,8 bilhões em apenas 12 meses. O médico Thales Bretas, viúvo do humorista Paulo Gustavo, também foi vítima. Ele e uma amiga entraram em um falso táxi no Rio de Janeiro.
“Quando a gente estava chegando no restaurante, o taxista começou a falar: ‘o carro ferveu, desce do carro porque ele pode explodir’. Era tudo uma encenação”, relatou. O criminoso usou uma maquininha sem visor, com a tela no celular. “Ele ainda falou assim comigo: ‘não aceita cartão por aproximação, tem que ser o cartão físico’.” Thales só percebeu o golpe ao receber um SMS: “compra aprovada no valor de muito mais do que a corrida”. O prejuízo foi de R$ 4.215.
O golpe começa quando o passageiro entra em um carro que parece ser um táxi, mas é conduzido por um criminoso. Ao final da corrida, o falso taxista afirma que não aceita Pix e solicita o pagamento com cartão físico, alegando que não pode ser por aproximação.
Ele entrega uma maquininha adulterada, que registra a senha digitada pela vítima por meio de um botão camuflado. Enquanto simula problemas de conexão, o golpista memoriza os dados e, em um momento de distração, troca o cartão por outro. Com a senha e o cartão verdadeiro em mãos, realiza compras de alto valor sem que a vítima perceba imediatamente.
Casos como esse se multiplicam. “Se anteriormente as organizações precisavam se dirigir a um caixa eletrônico para tentar conseguir R$ 50 mil, R$ 100 mil, hoje a possibilidade de alcançar um valor dessa natureza, eles conseguem aplicando três, quatro golpes ao longo de um dia, com risco muito mais baixo de ser pego e responsabilizado pelo nosso sistema de justiça”, explicou David Marques, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Enquanto os estelionatos aumentaram, os roubos caíram 51% no mesmo período. A tecnologia, que deveria facilitar a vida, virou aliada dos criminosos. “Quando surge uma nova tecnologia, no mesmo dia, no máximo no dia seguinte, vai ter alguém interessado em saber das vulnerabilidades dessa nova tecnologia”, disse Marques. Segundo ele, há cursos e sites que vendem dados pessoais e ensinam como aplicar golpes com maquininhas.
No Rio de Janeiro, uma passageira atenta ajudou a polícia a prender Daniel de Souza Alves, suspeito de aplicar o mesmo golpe. Ele foi detido ao tentar enganar outra vítima e foi indiciado por estelionato. Thales Bretas reconheceu o criminoso após ver uma reportagem na TV. “Quando eu bati o olho na foto, era o taxista que me deu o golpe. A gente se sente bobo, né? Enganado.”
Para se proteger, a recomendação da polícia é usar táxis por aplicativo, que já incluem o pagamento na corrida. Outra opção é embarcar em pontos oficiais, onde os motoristas são cadastrados. E sempre que possível, pagar com Pix ou cartão por aproximação. “Se o taxista falar que não está conseguindo, ela já fica alerta”, orientou o delegado Figueiredo.