Para conter o rombo nas contas públicas, o governo estuda adiar o
reajuste do salário mínimo do ano que vem, de janeiro para maio. Se a
medida for levada adiante, serão economizados R$ 12,3 bilhões no ano –
mais que um quarto do ajuste fiscal estipulado para 2016, de R$ 43,8
bilhões.
Oficialmente, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nega que haja um
plano para adiar o reajuste, mas, nos bastidores, tem se mostrado
favorável à medida que foi apresentada por parlamentares durante as
negociações envolvendo o Orçamento no ano que vem. “A ideia é a gente
dar atenção ao gasto”, disse ele, ontem, ao deixar a Câmara dos
Deputados, aonde discutiu o ajuste fiscal.
“A ideia é justificável devido à urgência de ter caixa para lidar com as
frustrações orçamentárias. Como boa parte dos gastos do governo é
direcionada à Previdência, seria possível economizar bastante”, avaliou o
economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Apesar do consenso sobre a necessidade de melhorar as contas
públicas, há controvérsias sobre a viabilidade da medida. Por se tratar
de mais um ajuste impopular, a consequência política seria negativa.
“Grande parte da base eleitoral da presidente votou nela por acreditar
que não seria prejudicada em relação a benefícios sociais e
trabalhistas. Se optar por adiar o reajuste do mínimo, o governo será
muito criticado e bombardeado pela oposição”, explicou o
economista-chefe da Austin Rating.
A preocupação é ainda maior pelo fato de 2016 ser ano de eleições
municipais, período no qual boa parte das alianças para a corrida
presidencial de 2018 é formada. A possibilidade de adiar o reajuste
salarial dos servidores federais de agosto para dezembro, também
discutida pela equipe econômica, tornaria a situação ainda pior para a
presidente e o PT. Outro fator que pesa na decisão é o possível abalo na atividade
econômica, que já está fragilizada. “O comércio, certamentente, seria
bastante afetado”, explicou Agostini.
R$ 12,3 bilhões
Economia que o governo poderá obter em 2016 com o adiamento da correção do salário mínimo por quatro meses
Medidas impopulares
Adiar o reajuste do salário mínimo não salva a pátria. Para lidar com o
rombo fiscal, são necessárias outras medidas, também impopulares, como o
aumento de receitas via CPMF. “Seria a principal fonte de recursos, já
que a arrecadação tem caído mês após mês”, afirmou Alex Agostini, da
Austin Rating. A situação, segundo ele, é insustentável e pode culminar
na perda de grau de investimento por mais uma agência de risco
internacional. “Teríamos um retrocesso enorme”, avaliou.
Fonte: Correio Braziliense