Estado de S.Paulo - O Brasil dos desempregados já tem quase a mesma população de
Portugal: beira os 10 milhões de habitantes. Por hora, 282 brasileiros
passam a fazer parte desse contingente, segundo cálculos do economista e
blogueiro do Estado Alexandre Cabral. É gente como Adeíldo dos Santos,
pai de três filhos, que está sem emprego há seis meses; como o haitiano
Vito Pharius, que chegou a São Paulo há um ano, sem a família, e até
hoje não conseguiu assinar a carteira de trabalho. É gente como André
Vernilo, de 21 anos, que acabou de pegar o diploma de relações públicas,
mas não consegue achar uma vaga na área; ou como Wagner Soares,
ex-funcionário de uma fábrica de autopeças, hoje vendedor ambulante no
viaduto Santa Ifigênia, em São Paulo.
A estimativa é de que, até o fim do ano, serão 12 milhões de
histórias como essas no País. Vai ser cada vez mais difícil não conhecer
alguém que esteja desempregado. E, para quem já está sem emprego, a
dificuldade será encontrar portas onde bater. “Isso é muito grave,
porque com exceção da agricultura, não há mais nenhum setor livre do
fantasma do desemprego”, diz o economista José Roberto Mendonça de
Barros, sócio da MB Associados. “E não se trata de uma crise
conjuntural, com uma queda temporária. O problema é estrutural.”
A nova onda de retração no mercado de trabalho ficou evidente a
partir do segundo semestre do ano passado, quando os setores de comércio
e serviços – grandes empregadores de mão de obra – começaram a demitir
com mais força. A piora se somou aos desligamentos na construção civil e
na indústria, em crise há mais tempo.