Eram 13 horas da quinta-feira passada quando o vice-presidente da
República, Michel Temer, cortou um pedaço do queijo branco sobre a mesa
de reuniões da antessala de seu gabinete no Anexo II do Palácio do
Planalto. Prestes a se tornar presidente da República, o peemedebista
mal tem tempo para se alimentar e já perdeu 2 quilos e meio. Enfrenta
uma maratona diária de reuniões com políticos, conselheiros, antigos
aliados e candidatos a novos amigos, todos dispostos a ocupar um lugar
de destaque em seu governo.
A pauta dessa roda-viva é a montagem do
ministério, uma equação complicada diante da quantidade de partidos a
atender e dos interesses em jogo. Temer não externa angústia nem
entusiasmo ao traçar cenários, ainda tem muitas dúvidas e uma ambição
certeira. Diz o vice: "Eu quero entrar para a história". Ele acha que
conquistará um lugar no panteão da República se encerrar o ciclo de
recessão, viabilizar os investimentos privados e estimular a geração de
empregos. É a sua grande aposta. É a sua grande largada.
Advogado constitucionalista que escreve poemas, Temer admite conhecer
pouco de economia. Por isso, a raposa política com décadas de
experiência na vida pública delegará o comando dessa área a um nome
testado e aprovado pelos meios políticos, financeiros e empresariais:
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central no governo Lula.
Esnobado por Dilma, que se recusou a nomeá-lo para chefiar sua equipe
econômica, Meirelles assumirá o Ministério da Fazenda no eventual
governo Temer com carta branca para escolher o presidente do Banco
Central e ressuscitar o PIB.
Na semana passada, o vice fez questão de
deixar escapar a preferência por Meirelles para avaliar a receptividade
ao nome. Considerou positiva a reação do mercado e deu ao futuro
subordinado um dever de casa: analisar um documento entregue por Paulo
Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a
Fiesp. O documento propõe um monumental corte de despesas e a venda de
parte das estatais para reforçar o caixa. Temer e Skaf se reuniram no
Palácio do Jaburu, no domingo 24. O convidado soou como sinfonia de Bach
aos ouvidos do anfitrião.
Skaf disse a Temer que é possível reduzir "a zero" o déficit do
governo em 2016, estimado em 96,6 bilhões de reais pelo governo Dilma
Rousseff, sem contar os gastos com o pagamento de juros da dívida. Skaf
também garantiu a Temer que é possível zerar o déficit mesmo sem
ressuscitar a CPMF, o imposto do cheque. O vice encarregou Meirelles de
ver quanto pode aproveitar das sugestões da Fiesp. Quer que o futuro
ministro feche uma proposta econômica que enterre de vez a CPMF e reduza
drasticamente o déficit projetado.
A ideia de Temer é levar a nova meta fiscal ao Congresso no seu
primeiro dia como presidente da República. Será seu ato inaugural. Um
ato de compromisso com o reequilíbrio das contas públicas e de afago aos
contribuintes. "Li o plano e gostei. Zerar o déficit sem recorrer a
aumento de impostos me agrada", diz Temer. "Eu preciso mudar a meta
fiscal de 2016 até para não começar meu mandato cometendo pedaladas
fiscais", acrescenta, referindo-se à acusação que embasou o impeachment
contra Dilma.