Praticamente me arrancaram da minha casa e me levaram para a TV. A senhora Regina Casé e a produtora do programa Esquenta! limitaram
o que eu devia falar. Eu só 'deveria responder o que me perguntassem'
(...). Quando eu tentava falar sobre a violência da polícia, era
cortada. Regina é uma farsa, uma artista, uma mentirosa." O
desabafo é de Maria de Fátima Silva, mãe de Douglas Rafael da Silva
Pereira, conhecido como o dançarino DG, morto em abril deste ano
durante ação da polícia militar na comunidade do Pavão-Pavãozinho, no
Rio de Janeiro.
Ela
participou, na quinta-feira (20) da Semana de Reflexões sobre
Negritude, Gênero e Raça (SERNEGRA), evento promovido pelo Grupo de
Estudos Culturais em Gênero, Raça e Classe do Instituto Federal de
Brasília (IFB) em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Questionada
pela plateia sobre a maneira com que a imprensa tratou o caso de seu
filho, criticou publicamente, pela primeira vez, a apresentadora global -
que, dias depois do assassinato, organizou um programa de homenagem a
DG.
De
acordo com Maria de Fátima, ela e toda a família foram levados de
van, às 5h30, até o Projac. Ao chegar ao local, todos foram trancados em
um cômodo pequeno com "uma comida horrorosa" (chamada por ela de
"feno") e avisados que só poderiam sair dali no horário do programa. A
única coisa que a ofereceram, ainda segundo seu depoimento, foi o
auxílio de uma profissional para pintar as unhas e arrumar os cabelos.
"Eu estava há 80 horas sem dormir. Lá ia querer saber de unha e cabelo?
Só queria esclarecer a morte do meu filho", disse.
Em
seguida, contou que teve acesso a uma agenda da produção do programa em
que encontrou um esboço do roteiro da gravação. "Não pode falar que foi
a polícia" e "Solta fotos sensacionalistas para a mãe chorar" eram
alguns dos tópicos escritos. Além disso, Regina teria escrito em outra
página que "nunca foi sua vontade fazer programa para pobre e
periferia". "Já
está nas redes sociais do meu filho. Tenho cópias. Posso provar na cara
daquela cretina", afirmou, alegando que, depois do programa, nunca mais
teve contato com a apresentadora.
O
depoimento de Maria de Fátima Silva foi bastante aplaudido pelos outros
participantes do evento, incluindo Jean Wyllys, deputado eleito pelo
Psol, e pela plateia, que imediatamente iniciou o coro "O povo não é
bobo, abaixo a Rede Globo". Durante o domingo, a reportagem do Terra tentou contato com a emissora para obter um posicionamento sobre o caso, mas ainda não obteve retorno.