O desafio dos dez anos invadiu o Facebook nos últimos dias. A brincadeira é compartilhar duas fotografias lado a lado, uma de 2009 e outra de 2019, para comparação. Apesar de ser divertido, especialistas alertam que este conteúdo pode estar sendo usado para alimentar algoritmos de inteligência artificial que usam reconhecimento facial para verificar padrões de envelhecimento.
“Ao participar da brincadeira, os usuários estão, de certa forma, preenchendo formulários, facilitando o processo de mineração de dados. Estão dizendo como eram há dez anos e como são hoje, fornecendo informações de como aconteceu o envelhecimento”, alertou o especialista em Direito digital e pesquisador do Núcleo de Estudos em Web Semântica e Dados Abertos da USP José Antônio Milagre, ao ‘Globo’. Os arquivos também possuem informações sobre como onde e quando os conteúdos foram produzidos, os chamados de metadados.
A publicação explica que com a hashtag #10yearchallenge os dados são centralizados para quem quiser utilizar. Não se sabe se a brincadeira foi criada com esse fim, mas é uma possibilidade.
“Traçar o reconhecimento facial e os padrões de envelhecimento não é essencialmente ruim. Pode ajudar na identificação de pessoas desaparecidas, por exemplo, mas nunca se sabe para quais fins a tecnologia será aplicada”, diz Milagre. Ele cita que os dados podem ser usados, por exemplo, por empresas como seguradoras, que se baseiam no envelhecimento do cliente para dar preço ao serviço. E a pessoa nunca saberá que pode estar sendo prejudicada por uma informação compartilhada durante uma brincadeira.