Agosto, mês do desgosto. O oitavo mês do ano reserva histórias de
amargar na política brasileira. Em 1954, Getúlio Vargas se matou. Em
1961, Jânio Quadros renunciou. Em 2015, o clima esquenta outra vez. A
presidente Dilma Rousseff (PT) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), estão na berlinda.
Dilma terá um mês difícil e decisivo. O TCU (Tribunal de Contas da União) deve concluir o julgamento das contas de 2014
da gestão. O ministro Augusto Nardes, relator do parecer sobre as
contas, apontou irregularidades como as "pedaladas fiscais", que seriam
manobras para simular uma situação contábil melhor que a real. Em caso
de rejeição das contas, o papel de Dilma será julgado pelo Congresso.
Opositores querem fazer da eventual reprovação o pontapé inicial para o
processo de impeachment da presidente.
No TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), ações da oposição contra as contas da presidente na
campanha eleitoral de 2014 também devem ser julgadas neste mês. O PSDB
acusa a campanha petista de usar dinheiro proveniente de corrupção. O Congresso pode ser outro obstáculo para Dilma.
Após a volta do recesso de julho, senadores e deputados federais podem
colocar em votação pautas que aumentam os gastos do governo e impor
novas derrotas à petista.
Além disso, movimentos contrários à presidente prometem realizar manifestações no país no dia 16. Não é só Dilma que enfrenta turbulências neste mês. A operação Lava
Jato vem respingando em políticos como Eduardo Cunha e pode produzir
novos efeitos em agosto. Cunha e o ex-presidente e senador Fernando
Collor (PTB-AL) correm o risco de serem denunciados nas próximas
semanas.
Em julho, veio à tona a acusação do lobista Julio Camargo, que afirmou ter pagado US$ 5 milhões em propina
a Cunha. A advogada Beatriz Catta Preta, que representava Camargo,
acusou aliados de Cunha na CPI da Petrobras de tentar intimidá-la.
Acusação similar à feita pelo doleiro Alberto Youssef. Deputados
federais, inclusive do próprio PMDB, já pediram a saída do peemedebista
da presidência da Câmara. Preso nesta segunda-feira (3), o ex-ministro José Dirceu foi o primeiro político a sentir o dissabor no mês atual.