Levamos milênios para desenvolver a lógica. Séculos para aprimorá-la.
Porém, apenas três décadas para torná-la artificial. Ficamos viciados
na inteligência artificial, prisioneiros da cognição eletrônica. Não
precisamos memorizar coisas banais como números de celulares de mãe ou
namoradas, arquivar dados, abrir um dicionário para compreender uma nova
palavra ou pesquisar numa biblioteca um novo saber. Basta um movimento
mágico e temos nosso totem do saber, o onipresente e onisciente Google. É
médico, professor, cientista, inventor, tradutor, guia, mestre, o que
nós acomodados usuários quisermos. Seria um deus, se não fosse o maior
lobo em pele de cordeiro. Sabe tudo de mim, de você, de todos nós. Falso
ou verdadeiro, inventado ou historiado, invade minha privacidade sem ao
menos pedir licença. Tem a chave de todos meus cômodos e, se deixar,
indica até onde encontrar minha alma gêmea.
E O FACE? – Mas o que dizer do mamute Facebook?
Começou como um conector de pessoas numa universidade americana. Traçava
um perfil e apresentava uma pessoa a outra à distância. Hoje, vigia
cada passo, é cheio de armadilhas, de ferramentas viciantes, é
instrumento de guerras, desunião, fofocas e ciberbullying. Muda eleições
nos EUA e na Inglaterra, promove tribos que se odeiam e acentua
preconceitos e ódios. Instagram, Tumblr, Twitter e tome tela de smart,
IPad e desktop. E destilam-se ódios, amores, mentiras, alegrias,
difamações. De longe, à distância, virtualmente, a covardia se faz
corajosa. Constrói-se uma vida a vida inteira, destrói-se em poucas
tecladas, poucos segundos. Haters irrelevantes têm seu momento de glória
ao postar sobre as celulites da celebridade.
É UM VÍCIO – Aí, nessa selva virtual, onde
predadores nos rondam 24 horas, sete dias por semana, a droga rola.
Viciados em telas, se tornam zumbis, comandados por nuvens de agentes do
mal. Ingenuamente repassando nossos dados e segredos, expondo corpos,
mentes e almas. Sendo sugados para uma engrenagem que mói sentimentos,
emburrecem e destroem relações.
Quando tudo parecia irremediavelmente empobrecedor, surge o WhatsApp.
Neura total! Grupos de trabalho, de família e de escola. O som
perturbador, o responde e não responde, o chato de galocha, o namoro de
emojis, o recebimento sem resposta, as postagens sem nexo e as piadinhas
sem noção. Ou um instrumento de trabalho, a democratização da
comunicação, ou a nova fonte de spam e de vigília dos serviços de
espionagem e de venda de informação. Afinal, não existe almoço grátis.
VEJA NO YOUTUBE – Já ouviram falar da tempestade
solar do século XIX, que destruiu toda a rede de telégrafos do mundo,
que só foi restaurada dez anos depois? Não havia eletricidade. Se
aproxima a possibilidade de um novo ciclo de explosão solar que
modificará o campo eletromagnético da Terra, torrando toda vida
eletrônica. Quem quiser, que busque um documentário. Como? Ora, pra quê existe o YouTube?