G1/ES - Mais de 40 anos e muitos desafios precisaram ser atravessados para
que o pedreiro Joaquim Corsino realizasse seu sonho. Aos 63 anos de
idade, vestido de beca e com chapéu de formando, ele recebeu, na noite
desta quinta-feira (17), em Vitória, o seu diploma de graduação em
Direito.
Para realiza o sonho, o pedreiro Joaquim Corsino dos Santos pedalava,
diariamente, entre Cariacica, onde mora, até Vitória, onde fica a
faculdade de Direito em que ele estuda. A distância, cerca de 21
quilômetros entre um município e outro, não desanimou o estudante.
“Quero ser delegado de polícia” disse.
Nascido em Itaumirim, Minas Gerais, Joaquim chegou ao Espírito Santo
aos 18 anos. Com mais de 20 concluiu um curso técnico em Administração. Mas após não ser aprovado no vestibular de Ciências Contábeis da
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em 1980, precisou deixar
os livros para trabalhar. A partir de então, Joaquim começou a atuar
como ajudante de pedreiro e, mais tarde, como pedreiro.
Ainda assim, a vontade de estudar sempre esteve presente. Por isso, a
cada parede erguida por Joaquim, parte do dinheiro ganhado era
guardado. Além de construir sua casa, em Bandeirantes, Cariacica, o
pedreiro juntou ao longo dos anos R$ 55 mil para os estudos.
“Eu sou um camarada que gosta das coisas honestas. Sempre quis fazer
um curso de Direito para ajudar outras pessoas”, conta Joaquim, que em
2008 iniciou a graduação em uma faculdade privada. Quatro períodos foram
concluídos, mas o pedreiro teve que adiar o sonho por mais um tempo. “Um amigo pediu R$ 4.500 emprestados e não pagou. Aí eu tive que
parar a faculdade para juntar mais dinheiro para poder pagar o curso
todo”, lembrou.
De Bicicleta
Em 2012, Joaquim retornou à graduação e não parou mais. Todos os dias
ele fazia o trajeto de sua casa até a faculdade, em Vitória, com sua
bicicleta em um percurso de 42 km. E engana-se quem pensa que com o diploma a saga de superação de
Joaquim chega ao fim. Os olhos do bacharel em Direito estão voltados
para o futuro. Seu próximo objetivo é ser aprovado pela Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). Em seguida, pretende se tornar delegado.
“Quando eu leio a Constituição no artigo quinto, que fala que todos têm
direitos iguais, vejo que tem muita coisa boa nela e eu gostaria de
contribuir para isso”.